Quem deita com cães, acorda com pulgas
29/12/2025, 06:37:36“Os coitados de pouca inteligência terminam sendo usados por personalidades ocultas, inclusive reproduzindo réplicas sem as características originais do pulguento.”
Há ditados populares que atravessam séculos porque resistem ao tempo, à moda e às conveniências. “Quem deita com cães, acorda com pulgas” é um deles. Não é apenas uma frase de efeito: é um diagnóstico moral, político e social de precisão cirúrgica. Fala menos dos cães e mais das escolhas humanas.
A máxima é simples: ninguém se contamina por acaso. A convivência prolongada com práticas duvidosas, discursos tortos e personagens de reputação questionável cobra seu preço. A pulga não pede licença, não respeita biografia, não reconhece títulos. Ela se instala. E quando se percebe, já faz parte do corpo. Assim pude comprovar ao ser interrompido por um desprovido de educação familiar, e, ferindo a ética da Escola Militar à qual pertenceu ao interromper uma conversa entre duas pessoas de maneira estupida e abrupta para se vangloriar por feitos da própria imbecil ação.
Na política — terreno fértil para esse tipo de infestação — o ditado ganha contornos quase pedagógicos. Não existe neutralidade ao se sentar à mesa errada. Não há inocência em alianças com quem despreza o povo, rasga a ética e trata o poder como herança privada. Quem escolhe dormir ao lado do oportunismo acorda inevitavelmente coçando a própria consciência, quando ainda a tem. Por vezes, sendo a contaminação por proximidades com adversários de décadas, e em troca de espaços em microfones.
É comum ver figuras públicas tentarem posar de vítimas depois que as pulgas aparecem. Alegam surpresa, juram desconhecimento, fingem espanto. Mas o cheiro do canil sempre esteve ali. As pulgas apenas tornaram visível aquilo que já era sabido, mas convenientemente ignorado.
O problema não são apenas as pulgas individuais, mas a normalização da infestação. Quando todos coçam, a coceira vira padrão. Quando todos convivem com cães sarnentos, a sarna passa a ser tratada como detalhe. E assim se constrói uma sociedade anestesiada, onde o errado vira rotina e a vergonha pede exoneração.
O ditado popular, portanto, não é um aviso moralista; é um lembrete de responsabilidade. As companhias que escolhemos revelam mais sobre nós do que qualquer discurso bem ensaiado. Caráter não se proclama — se convive. E ética não se improvisa — se pratica, inclusive na escolha de quem caminha ao nosso lado.
No fim, não adianta trocar o lençol ou culpar o colchão. Quem deita com cães, acorda com pulgas. Sempre. E insistir em fingir surpresa é apenas mais uma coceira de má-fé.