Quem deita com cães, acorda com pulgas

“Os coitados de pouca inteligência terminam sendo usados por personalidades ocultas, inclusive reproduzindo réplicas sem as características originais do pulguento.”

Quem deita com cães, acorda com pulgas

Há ditados populares que atravessam séculos porque resistem ao tempo, à moda e às conveniências. “Quem deita com cães, acorda com pulgas” é um deles. Não é apenas uma frase de efeito: é um diagnóstico moral, político e social de precisão cirúrgica. Fala menos dos cães e mais das escolhas humanas.

A máxima é simples: ninguém se contamina por acaso. A convivência prolongada com práticas duvidosas, discursos tortos e personagens de reputação questionável cobra seu preço. A pulga não pede licença, não respeita biografia, não reconhece títulos. Ela se instala. E quando se percebe, já faz parte do corpo. Assim pude comprovar ao ser interrompido por um desprovido de educação familiar, e, ferindo a ética da Escola Militar à qual pertenceu ao interromper uma conversa entre duas pessoas de maneira estupida e abrupta para se vangloriar por feitos da própria imbecil ação.   

Na política — terreno fértil para esse tipo de infestação — o ditado ganha contornos quase pedagógicos. Não existe neutralidade ao se sentar à mesa errada. Não há inocência em alianças com quem despreza o povo, rasga a ética e trata o poder como herança privada. Quem escolhe dormir ao lado do oportunismo acorda inevitavelmente coçando a própria consciência, quando ainda a tem. Por vezes, sendo a contaminação por proximidades com adversários de décadas, e em troca de espaços em microfones.

É comum ver figuras públicas tentarem posar de vítimas depois que as pulgas aparecem. Alegam surpresa, juram desconhecimento, fingem espanto. Mas o cheiro do canil sempre esteve ali. As pulgas apenas tornaram visível aquilo que já era sabido, mas convenientemente ignorado.

O problema não são apenas as pulgas individuais, mas a normalização da infestação. Quando todos coçam, a coceira vira padrão. Quando todos convivem com cães sarnentos, a sarna passa a ser tratada como detalhe. E assim se constrói uma sociedade anestesiada, onde o errado vira rotina e a vergonha pede exoneração.

O ditado popular, portanto, não é um aviso moralista; é um lembrete de responsabilidade. As companhias que escolhemos revelam mais sobre nós do que qualquer discurso bem ensaiado. Caráter não se proclama — se convive. E ética não se improvisa — se pratica, inclusive na escolha de quem caminha ao nosso lado.

No fim, não adianta trocar o lençol ou culpar o colchão. Quem deita com cães, acorda com pulgas. Sempre. E insistir em fingir surpresa é apenas mais uma coceira de má-fé.

Creditos: Professor Raul Rodrigues