Na política, o gelo esconde as marcas enquanto o fogo desidrata e mostra

Quem sempre hiberna - se esconde durante mandatos morando fora do "patrimônio" eleitoral, e por longo tempo quando fora do mandato - vive entre o gelo e fogo.

Na política, o gelo esconde as marcas enquanto o fogo desidrata e mostra

Na política, nada é por acaso. Cada gesto, cada silêncio e cada explosão calculada cumprem um papel no teatro do poder. E é nesse cenário que o gelo e o fogo se tornam metáforas perfeitas para entender como os atores políticos sobrevivem, avançam e, muitas vezes, enganam. 

O gelo é a estratégia do disfarce. Hibernar é a frieza que anestesia a opinião pública, congela investigações, apaga rastros e suaviza escândalos. Políticos que dominam o gelo falam pouco, desaparecem por tempos, e depois  prometem muito e agem menos ainda — sempre protegidos por discursos técnicos, notas oficiais e sorrisos ensaiados. O gelo não resolve, apenas conserva. Mantém intactos os privilégios, esconde as marcas do passado e adia indefinidamente o acerto de contas com a verdade.

Já o fogo é o oposto: expõe, consome e revela. O fogo é a política feita no grito, na crise, no confronto direto. Ele desidrata porque retira as máscaras, seca as narrativas artificiais e obriga os personagens a mostrarem quem realmente são. Sob o fogo, não há maquiagem que resista. Quem não tem conteúdo vira cinza; quem vive de engodo passa a feder à distância.

O problema é que o fogo, embora revele, também destrói. Quando usado sem responsabilidade, incinera pontes, instituições e a própria confiança social. Muitos que se apresentam como incendiários da moralidade apenas substituem um jogo sujo por outro, trocando a hipocrisia fria pela demagogia quente.

Entre o gelo e o fogo, o povo costuma pagar o preço mais alto. O gelo paralisa políticas públicas e condena gerações à estagnação. O fogo descontrolado gera instabilidade, medo e retrocessos. Ambos, quando mal utilizados, servem mais ao projeto pessoal de poder do que ao interesse coletivo.

A política madura exige algo mais difícil: equilíbrio. Nem a frieza cínica que esconde marcas, nem o incêndio permanente que tudo devora. Exige clareza, coragem e compromisso com a verdade — mesmo quando ela queima e deixa cicatrizes visíveis.

Porque, no fim, as marcas sempre existem. O gelo apenas as esconde por um tempo. O fogo, cedo ou tarde, as revela. E a história, implacável, jamais esquece quem escolheu congelar a verdade e quem teve coragem de enfrentá-la.

Creditos: Professor Raul Rodrigues