O ocaso de Bolsonaro

O ocaso de Bolsonaro

O Ocaso de Bolsonaro

Um clássico da nossa música, a canção "O Bêbado e a Equilibrista", de Aldir Blanc e João Bosco, feita ainda nos anos 1970, retratava algumas imagens fortes e bastante pertinentes para a época. O ambiente era tenso, carregado, próprio de uma ditadura militar.
Lá pelas tantas se fala de um "Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu num rabo de foguete". A imagem é expressiva, faz referência aos mortos, desaparecidos e exilados pelo regime militar.
Ironicamente, Jair Bolsonaro, que além de ter sido Presidente da República foi também capitão do Exército e notório defensor do período militar em questão (1964-1985), parece ter partido, ele também, num "rabo de foguete".
Surgindo como um meteoro na eleição de 2018, foi eleito de modo razoavelmente surpreendente, eis que nunca teve grande destaque nos seus sete mandatos como deputado federal. Na verdade, testemunhamos um fenômeno maior que Bolsonaro, mas nele personificado desde o primeiro instante.
Seus apoiadores o chamavam de "mito". Do outro lado, uma esquerda combalida, desgastada e até certo ponto desorientada. Preso num quarto na sede da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Lula se agarrava a alguma ideia de normalidade, recebendo correlegionários, militantes, artistas, intelectuais, políticos.
Dali, definiu que Fernando Haddad seria o candidato à presidente do país pelo PT. A estratégia malogrou. Desconhecido e sem carisma, Haddad não foi páreo para o líder populista da direita.
Bolsonaro assume o governo em 2019 e já em 2020 enfrenta a maior pandemia da história mundial recente. Com gestos e decisões polêmicas, diz que a COVID é uma "gripezinha", combate o "fique em casa", cria um kit de remédios sem comprovação científica no tratamento da doença – com a cloroquina como carro chefe – e amarga pesadas críticas ao seu governo.
Em 2022 busca a reeleição, agora contra Lula, maior personalidade da esquerda no país. Dessa vez perde, ainda que por pouco. Mas é o que vem depois que sela seu destino, sendo ele talvez o maior protagonista da chamada "trama golpista". É condenado a mais de 27 anos de prisão, pena que já está cumprindo.
Bolsonaro ainda movimenta mentes e corações, porém, já não tem mais o mesmo elan, o mesmo impacto e a mesma influência de outros tempos. Contudo, há ainda elementos de incerteza, algum tipo de anistia ou redução de pena pode tomar espaço e beneficiá-lo. Por ora, são apenas conjecturas.
Na comparação, porém, com o seu passado recente, Bolsonaro, de fato, pegou um rabo de foguete e saiu de cena, mostrando que o mito é de carne e osso, sujeito às vicissitudes comuns a quaisquer outras pessoas, tenham poder ou não.