Moraes pode ter intervindo a favor de um fraudador

Moraes pode ter intervindo a favor de um fraudador

Moraes e o Banco Central

A jornalista Malu Gaspar, do Globo, pode ter tanto encontrado uma mina de problemas como também pode ter simplesmente arranhado a superfície de uma questão com tentáculos maiores, mais profundos e mais complexos. Estamos nos referindo à reportagem reveladora da atuação do ministro do STF, Alexandre de Moraes, junto ao Banco Central, mais especificamente num contato direto e pessoal com o presidente do Bacen, Gabriel Galipolo. Gaspar informa que foram três conversas por telefone e uma visita pessoal de Moraes ao chefão do Bacen.

Parece claro, aliás bastante claro, que ministro da Suprema Corte não pode e nem deve intervir em favor de ninguém junto a outras estruturas do Estado, no caso o Banco Central do país. Muito menos se a pessoa objeto da intervenção está sendo julgada pela própria Suprema Corte. E muito, muito, mas muito menos ainda se essa mesma pessoa é cliente da esposa do ministro.

Os interesses de Viviane Barci

Viviane Barci, esposa de Moraes, era (talvez ainda seja) advogada do Banco Master, liquidado pelo Bacen. Os relatos de bastidores dão conta de que Moraes “gosta de Daniel Vorcaro”, o enroladíssimo dono do Master. Mas esse gostar é bastante relativo, afinal, a esposa do ministro, Viviane, firmou um contrato de assessoria jurídica com o banco em que recebe de expressivos R$ 3.600.000,00 mensais de honorários advocatícios por 36 meses, o que dá um total de R$ 129.000.000,00.

Com ganhos tão expressivos, é bastante compreensível o especial apreço de Moraes por Vorcaro. Contudo, o dono do Banco Master está hoje com uma tornozeleira no pé, recluso em sua mansão, mas suas traquinagens no meio financeiro já vieram, ao menos parcialmente, à tona. O Master, segundo as investigações, “fabricava” carteiras de crédito e as vendia ao BRB, Banco de Brasília, entidade estatal, revelando um possível envolvimento de políticos de alto coturno num rombo superior a R$ 16 bilhões, somente nesta fraude em específico.

Consequências e reflexões

Se confirmado o envolvimento de Moraes no caso, estaremos presenciando alguém que, não satisfeito com seus poderes quase ilimitados como ministro, também buscava com inaudita desenvoltura, para alguém em sua posição, também ganhos financeiros estratosféricos.

Na Roma Antiga, quando alguém era escolhido imperador, se sabia que o escolhido (sempre eram homens) iria conduzir o maior e mais poderoso império da Terra naquele momento. A vaidade, a ambição desmedida, o autoritarismo, o abuso de poder, eram possibilidades palpáveis para o futuro escolhido.

Com uma coroa de louros na cabeça, todo o povo o saudando, o “ungido” subia uma longa escadaria até ser entronizado formalmente como Imperador de Roma. Ao seu lado, e a cada passo, alguém o acompanhava e repetia a cada passo: memento mori ou, em português, lembra-te que é mortal. O hábito romano dedicado aos antigos césares parece ser ainda útil para todos os que exercem o poder, afinal, como nos ensinou Lorde Acton: o “poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.