A quebra de braço entre poderes só mostra a podridão
23/12/2025, 22:08:39Entre blindagem do STF e a PEC da Dosimentria quem termina na cadeia é pobre, a puta e o preto.
A recorrente quebra de braços entre os Poderes da República deixou de ser um embate institucional saudável — previsto pela Constituição como freio e contrapeso — para se transformar em um espetáculo degradante, onde vaidades, interesses pessoais e projetos de poder falam mais alto que o bem coletivo. O que se vê não é a defesa da democracia, mas a exposição nua e crua da podridão que se infiltrou nas estruturas do Estado.
Executivo, Legislativo e Judiciário já não dialogam; confrontam-se. Não buscam equilíbrio; disputam protagonismo. Cada decisão vira revanche, cada votação é tratada como afronta, cada sentença soa como provocação. O cidadão, que deveria ser o destinatário final das políticas públicas e das garantias constitucionais, assiste a tudo como figurante de um teatro mal ensaiado, pagando a conta de uma crise permanente.
Quando um Poder tenta impor sua vontade sobre os demais, não está fortalecendo a democracia, mas corroendo-a. A politização excessiva das decisões judiciais, o fisiologismo escancarado no Parlamento e o autoritarismo disfarçado de governabilidade no Executivo formam um tripé perigoso, onde a ética é a primeira a cair. Nesse ambiente, a Constituição vira argumento de conveniência, usada conforme o interesse do dia.
O mais grave é a naturalização desse conflito. Passou a ser “normal” viver sob tensão institucional, como se o país pudesse avançar em meio ao caos calculado. Não pode. Nenhuma nação se sustenta quando seus Poderes trabalham para se anular mutuamente, em vez de se fiscalizarem com responsabilidade. A quebra de braços constante não revela força; revela fraqueza moral e falência de liderança.
Enquanto os Poderes brigam por espaço, o povo perde direitos, serviços públicos se deterioram e a confiança nas instituições evapora. A descrença cresce porque o cidadão percebe que o jogo não é por justiça, nem por legalidade, mas por controle. E quando o poder vira um fim em si mesmo, a democracia se transforma em discurso vazio.
A podridão não está no conflito em si, mas na motivação que o alimenta. Divergir é legítimo; sabotar é criminoso. Se os Poderes não compreenderem que sua razão de existir é servir à sociedade — e não a projetos pessoais ou ideológicos — a quebra de braços continuará, até que reste apenas o entulho institucional de um Estado desacreditado.
No fim, a história ensina: quando os Poderes se digladiam, quem sempre perde é o povo. E a podridão, uma vez exposta, cobra seu preço.