Identidade e Linguagem no Debate das Havaianas
23/12/2025, 12:09:33Entendendo a Controvérsia
O episódio envolvendo a Fernanda Torres e a campanha das Havaianas revela um tempo em que identidade vale mais que intenção. A disputa simbólica se transformou em um campo de batalha, onde palavras carregam um peso emocional significativo.
No vídeo que fiz comentando o caso, mencionei: "Um trocadilho que nem ficou claro se foi de propósito." A reação foi imediata e polarizada. Para muitos, as interpretações eram binárias: eu poderia ser visto como ingênuo ou cínico. Porém, ao refletir, percebi que o humor havia se tornado secundário.
A Mensagem da Campanha
A campanha veiculada pelas Havaianas contenha a mensagem: "Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar. Sorte não depende de você, né? Depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca. Os dois pés onde você quiser. Vai com tudo. De corpo e alma, da cabeça aos pés."
Se olharmos mais a fundo, poderíamos questionar se a intenção era, de fato, provocar. O texto poderia atacar o simbolismo do "pé direito" ou ironizar a conexão entre direita e virtude, mas na verdade não faz nenhuma dessas coisas. Sua essência é simples: comece inteiro, equilibrado. Não se limite a um lado, mas abrace ambos.
O Significado Cultural
A semiótica já nos ensinou que os signos têm diferentes interpretações dependendo do contexto em que estão inseridos. Umberto Eco, por exemplo, nos mostrou como o sentido dos signos pode se transformar. Neste caso, o "pé direito" é carregado de significado cultural, muito antes de ser um termo político.
A forma como a campanha foi lida como metáfora demonstra como o público atual luta para separar linguagem e ideologia. Ao mesmo tempo, explica por que minha afirmação sobre a falta de clareza foi considerada ingênua. A polêmica não dizia respeito ao texto, mas ao campo simbólico que ele abrange.
Reflexões Finais
Esse episódio oferece uma visão valiosa sobre o momento que estamos vivenciando. Simbolismo muitas vezes vale mais que frases, e a identidade parece pesar mais do que a intenção. As divisões entre direita e esquerda transcendem ideologias, transformando-se em gatilhos emocionais.
Minha proposta é que nos equilibremos ao adentrar o novo ano. Que todos nós comecemos 2026 com os dois pés no chão. Esse será um ano de eleições, e é nossa oportunidade de fazer as mudanças necessárias. Arrumar a casa implica reaprender a ouvir palavras sem colocá-las em bandeiras.