Revanche da Dosimetria iguala chefes do PL aos do INSS

Escândalo dos consignados do INSS e operação da PF sobre os chefes do PL iguala a todos no antro da corrupção

Revanche da Dosimetria iguala chefes do PL aos do INSS

A chamada revanche da dosimetria não é apenas um ajuste técnico no cálculo das penas; ela se transforma em um recado institucional duro e direto: não há hierarquia política capaz de blindar ninguém quando a régua da Justiça resolve medir todos com a mesma fita. Ao igualar as penas de chefes do PL às impostas a dirigentes envolvidos no escândalo do INSS, o Judiciário expõe uma verdade incômoda para o sistema político brasileiro.

Durante anos, construiu-se a falsa percepção de que crimes praticados sob o guarda-chuva partidário carregariam peso menor do que aqueles cometidos na burocracia estatal. A dosimetria agora revista desmonta essa narrativa. O método de cálculo das penas passa a revelar o que antes era escondido sob discursos jurídicos sofisticados: a gravidade do dano social independe do cargo ou da sigla.

No caso do INSS, os desvios atingiram diretamente os mais frágeis — aposentados e pensionistas. No caso dos chefes partidários, os crimes atingem o coração da democracia, corrompendo processos eleitorais, decisões legislativas e a confiança coletiva. Quando a dosimetria iguala essas condutas, a mensagem é clara: prejudicar milhões de brasileiros, seja roubando o benefício do pobre ou manipulando o poder político, tem o mesmo peso moral e jurídico.

Essa equiparação desmonta o discurso vitimista que tenta pintar líderes partidários como perseguidos políticos. Não se trata de revanche ideológica, mas de consequência jurídica. A pena não nasce do nome do réu, mas do conjunto de provas, da extensão do dano e da reincidência de práticas que já se tornaram quase rotina em certas estruturas de poder.

O incômodo não está na decisão em si, mas no espelho que ela oferece. Quando chefes do PL passam a ocupar o mesmo patamar penal que dirigentes do INSS envolvidos em esquemas, o sistema político percebe que o privilégio da exceção começa a ruir. A toga, ao menos nesse episódio, não se curva à gravata.

A revanche da dosimetria, portanto, não é vingança; é ajuste de contas com a história recente. E talvez seja esse o maior medo de muitos: não a pena aplicada, mas o precedente criado. Porque, uma vez igualados, já não há como sustentar que alguns crimes são toleráveis só porque vestem o figurino da política.

No fim, resta ao país decidir se aceita essa igualdade como avanço institucional ou se continuará tratando a Justiça como campo de barganha. A dosimetria falou. Agora é o sistema político que precisa responder.

Creditos: Professor Raul Rodrigues