Sobrevivência e esperança na história de prisioneiro sírio

Sobrevivência e esperança na história de prisioneiro sírio

A história de Ghazi Mohamed


Ghazi Mohamed, um ex-prisioneiro sírio, tornou-se um símbolo de esperança e resiliência após sua libertação, que ocorreu em um momento crítico na história da Síria. No dia 9 de dezembro de 2024, enquanto o regime de Bashar Al-Assad enfrentava uma revolta significativa, um vídeo de Ghazi se tornou viral nas redes sociais. Nele, emocionado, ele revelou: \"Agora estamos em Damasco. E juro por Alá, que a mim e a um amigo nos iam executar meia hora antes da libertação\".


Um ano se passou desde esse dia, e hoje, aos 39 anos, Ghazi reflete sobre as torturas que enfrentou e a sorte que teve em ser resgatado por rebeldes momentos antes de sua execução em uma prisão na base aérea de Mezzeh, em Damasco. \"Foi tudo muito rápido. Apenas alguns minutos se passaram entre a decolagem do helicóptero e a nossa libertação\", comentou Ghazi em sua loja de tapetes, situada em Maar Shurin, entre as cidades de Hama e Alepo.


As cicatrizes da tortura


Embora tenha refeito parte de sua vida, Ghazi ainda carrega as cicatrizes emocionais e físicas das torturas que sofreu durante sua detenção. Ele perde um sorriso ao lembrar do sofrimento e das humilhações que enfrentou: \"Os primeiros quatro dias não consegui dormir, pois era constantemente interrogado e espancado\". O foco das perguntas, segundo ele, não era sobre sua vida, mas a de seu irmão mais velho, que estava envolvido com grupos rebeldes.


Após ser preso, Ghazi foi submetido a métodos brutais, como ser pendurado em uma tubulação, tortura que durou 11 dias. \"Só pensava que desejava voltar para a cela, onde a tortura era menos violenta\". Hoje, ainda ecoam em sua mente as vozes que ele começou a ouvir em sua mente debilitada por meses de prisioneiro: \"É como aquelas coisas que vemos em filmes\", compartilha.


A libertação e o novo começo


O dia 9 de dezembro de 2024 se tornaria um marco em sua vida. Ghazi descreve o momento em que os guardas abriram as celas e prepararam a execução. \"Vi tudo preparado para a execução. Inclusive, barris de diesel estavam prontos para explodir o local. Entendi que era o fim\", relembra.


Então, o que parecia ser seu destino cruel foi interrompido pelo som do helicóptero. \"Ouvimos gritos e gritos de liberdade. Os rebeldes chegaram e nos resgataram\", afirma Ghazi, ainda em estado de choque pelo que viveu.


A vida após a prisão


Hoje, mesmo sem uma casa, devido ao bombardeio que destruiu sua residência, Ghazi conseguiu se reerguer e até encontrou um novo propósito em sua vida. Ele viaja frequentemente, sua empresa familiar exporta produtos para os países vizinhos e para o Golfo. Além disso, ele refletiu sobre como a fortuna de sua família pode ter influenciado em sua prisão. \"As pessoas sabiam que nós nos saíamos bem economicamente. Era uma questão de tempo até que isso se tornasse um alvo para os opressores\", comentou.


Ghazi também não deixou de contornar a difícil realidade que ainda vive. Ele conseguiu, finalmente, realizar uma das obrigações do Islã: peregrinar a Meca. Este ato simbólico foi um poderoso testemunho de sua resiliência e desejo de vida após encarar a morte tão de perto. \"Sinto que agora, mesmo tendo escapado da morte, estou mais vivo do que nunca\".


Conclusão


A história de Ghazi Mohamed não é apenas um relato individual de sobrevivência; é um reflexo da luta de muitos outros sírios que enfrentaram a opressão, o medo e a incerteza em um dos momentos mais desafiadores de sua história. Sua vida, marcada por dor e resiliência, ressoa como um poderoso testemunho da capacidade humana de se reerguer e encontrar esperança, mesmo nas circunstâncias mais sombrias.