Pesquisas “gangorras”: em quem acreditar diante de tantas discrepâncias

Pesquisas eleitorais ou instrumentos de indução do voto?

Pesquisas “gangorras”: em quem acreditar diante de tantas discrepâncias

Em períodos pré-eleitorais, as pesquisas de intenção de voto surgem como termômetros do humor popular. Mas quando esses termômetros parecem quebrados — apontando temperaturas completamente diferentes no mesmo dia, na mesma cidade e com o mesmo eleitorado — a pergunta inevitável surge: em quem acreditar?

As chamadas pesquisas “gangorras” oscilam de forma tão brusca que desafiam a lógica do senso comum. Um candidato aparece liderando com folga numa pesquisa; dias depois, despenca para a segunda ou terceira colocação em outro levantamento. Não se trata de uma virada política concreta, mas de uma disputa estatística que mais confunde do que informa.

É evidente que metodologias variam: tamanho da amostra, recorte geográfico, margem de erro, período de coleta. Tudo isso é legítimo e técnico. O problema começa quando as discrepâncias extrapolam o razoável e passam a servir mais como instrumento de narrativa política do que como fotografia da realidade. Pesquisa, nesse caso, deixa de ser ciência e passa a ser panfleto com números.

O eleitor, já cansado de promessas vazias e escândalos recorrentes, torna-se refém desse jogo. Muitos acreditam apenas na pesquisa que confirma suas convicções prévias; outros rejeitam todas, tratando-as como fraude generalizada. Ambos os extremos são perigosos. A descrença total corrói a democracia; a fé cega, também.

Não é coincidência que essas pesquisas “milagrosas” apareçam em momentos estratégicos: vésperas de convenções, debates ou decisões judiciais. Servem para criar clima de vitória, induzir o chamado “voto útil” ou desestimular candidaturas consideradas inconvenientes a determinados grupos de poder.

Diante desse cenário, cabe ao eleitor fazer o que raramente é estimulado a fazer: pensar. Observar quem contratou a pesquisa, qual instituto a realizou, qual histórico esse instituto possui e, principalmente, confrontar os números com a realidade das ruas. A pesquisa séria dialoga com o cotidiano; a manipulada vive isolada em planilhas.

No fim das contas, a única pesquisa infalível continua sendo a das urnas. Até lá, desconfiança não é cinismo — é prudência. Em tempos de “gangorras” estatísticas, acreditar demais pode ser tão perigoso quanto não acreditar em nada.

Creditos: Professor Raul Rodrigues