Corrupção: a moléstia do século XXI
16/12/2025, 15:27:37Quando o desvio de recursos corrói instituições, destrói vidas e ameaça a própria democracia
A corrupção é, sem exageros, uma das maiores moléstias do século XXI. Não porque seja um fenômeno novo — a história humana sempre conviveu com ela —, mas porque jamais esteve tão entranhada nas estruturas do poder, tão sofisticada em seus métodos e tão devastadora em seus efeitos sociais, econômicos e morais.
No mundo contemporâneo, a corrupção deixou de ser apenas o ato isolado de um agente público desonesto. Ela se transformou em um sistema, um organismo vivo que se adapta, se protege e se reproduz. Está presente nos grandes contratos, nas licitações direcionadas, no desvio de recursos da saúde e da educação, mas também nos pequenos atos cotidianos que muitos insistem em normalizar: o “jeitinho”, o favor em troca de vantagem, a tolerância com o ilícito quando ele beneficia alguém próximo.
O efeito mais cruel dessa moléstia recai sobre os mais vulneráveis. Cada centavo desviado da saúde significa menos medicamentos, menos leitos, menos vidas salvas. Cada fraude na educação representa salas de aula precárias, professores desvalorizados e gerações condenadas à exclusão. A corrupção não rouba apenas dinheiro; ela rouba oportunidades, dignidade e futuro.
No campo político, seus danos são ainda mais profundos. A corrupção corrói a confiança da sociedade nas instituições, enfraquece a democracia e alimenta o descrédito generalizado. Quando o cidadão passa a acreditar que “todos são iguais” e que “nada muda”, abre-se espaço para o autoritarismo, para o discurso fácil e para salvadores da pátria que, muitas vezes, apenas reciclam velhas práticas com nova retórica.
Combatê-la exige mais do que operações policiais e julgamentos pontuais, embora estes sejam indispensáveis. O enfrentamento real da corrupção passa por educação cidadã, transparência radical, fortalecimento das instituições de controle e, sobretudo, por uma mudança cultural. É preciso romper com a lógica da conivência, da omissão e da relativização do erro.
A corrupção só prospera onde encontra terreno fértil: silêncio, medo e conveniência. Enfrentá-la é um dever coletivo e contínuo, que começa na escolha consciente dos representantes, passa pela fiscalização permanente do poder e se consolida na ética do dia a dia.
Enquanto a corrupção for tratada como algo inevitável, ela continuará sendo a moléstia do nosso tempo. Mas quando a sociedade decidir encará-la como o câncer social que realmente é, talvez o século XXI ainda possa ser lembrado não apenas pela doença, mas pela cura.