Bolsonaro e a vala comum da política: quando generais descem do pedestal

Quando Presidente, Bolsoanro se vingou de alguns oficiais da epoca em que foi expulso do Exército e ao apdrinhar outros, levou-os ao calabouço das prisões. Ruim para todos.

Bolsonaro e a vala comum da política: quando generais descem do pedestal

Por décadas, parte das Forças Armadas brasileiras sustentou a imagem de instituição técnica, hierárquica e distante das disputas menores da política partidária. Uma imagem construída com cuidado após a redemocratização, ainda que marcada por sombras do passado. Jair Bolsonaro, no entanto, conseguiu em poucos anos aquilo que a história levou décadas para tentar apagar: arrastar generais para a vala comum da política miúda, do discurso rasteiro e da submissão ao projeto pessoal de poder.

Ao chegar à Presidência, Bolsonaro não apenas cercou-se de militares — ele os convocou para ocupar cargos civis, opinar sobre temas que extrapolavam completamente a defesa nacional e, pior, legitimar com farda discursos antidemocráticos. Generais que deveriam zelar pela Constituição passaram a frequentar palanques ideológicos, entrevistas enviesadas e reuniões políticas como se fossem cabos eleitorais de um governo instável.

O resultado foi devastador. A aura de neutralidade se perdeu. A confiança pública foi corroída. Quando generais aceitam relativizar eleições, flertar com insinuações golpistas ou silenciar diante de ataques às instituições, deixam de ser vistos como servidores do Estado e passam a ser percebidos como atores políticos comuns — sujeitos às mesmas críticas, suspeitas e rejeições que qualquer político profissional.

Bolsonaro, especialista em transferir responsabilidades, não caiu sozinho. Ao radicalizar o discurso e tensionar permanentemente a democracia, puxou consigo oficiais de alta patente que aceitaram trocar o respeito institucional pela proximidade do poder. Muitos imaginaram que controlariam o capitão reformado; no fim, foram usados como escudo e depois descartados, empurrados para o desgaste público e para o julgamento da história.

A “vala dos políticos” não é apenas o lugar da impopularidade. É o espaço onde promessas se desfazem, reputações se mancham e a autoridade moral desaparece. Ao aceitarem entrar nesse jogo, generais perderam algo que não se recupera com notas oficiais ou discursos protocolares: a credibilidade.

O episódio deixa uma lição dura para o país. Forças Armadas não são partido, quartel não é palanque e farda não combina com projeto pessoal de poder. Quando essa linha é cruzada, todos perdem — a democracia, as instituições e a própria história militar. Bolsonaro passa; o dano que ele causou à imagem dos generais que o seguiram, esse ficará por muito tempo.

Creditos: Professor Raul Rodrigues