Geografia de exclusão no Rio Grande do Sul revela 400 mil invisíveis

Geografia de exclusão no Rio Grande do Sul revela 400 mil invisíveis

Geografia de exclusão no Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, mais de 400 mil pessoas vivem hoje em favelas e comunidades urbanas, espalhadas por 481 territórios em 53 municípios, numa geografia de exclusão que já alcança 3,8% da população estadual. Porto Alegre concentra a maior parte desses moradores e carrega, nas suas vilas, o retrato de um projeto urbano que nunca foi pensado para todos, apenas tolerado nas bordas.

Os dados do Censo 2022 mostram que, mesmo sem estar entre os estados com maior proporção de habitantes em favelas, o Rio Grande do Sul guarda disparidades de infraestrutura mais agudas que a média nacional, sobretudo em saneamento, mobilidade e arborização. Em muitos desses territórios, a enchente de 2024 apenas escancarou um quadro que já era de risco permanente: casas erguidas à revelia do poder público, longe dos serviços e perto dos impactos climáticos extremos.

Especialistas lembram que nada disso é sinônimo de \"informalidade\" no sentido romântico: é precariedade produzida por décadas de ausência de política urbana e de planejamento que enxergou essas áreas como problema a conter, nunca como cidade a integrar. Quando quase meio milhão de pessoas depende de gambiarras para acessar água, esgoto, transporte e áreas de lazer, o que está em jogo não é apenas estatística, mas o direito básico de existir com dignidade no mapa oficial do Estado.

Enquanto novos métodos de mapeamento refinam os números e dão nome a vilas antes invisíveis, moradores seguem cobrando o óbvio: oportunidade, escola, cultura, esporte, trabalho e uma calçada minimamente segura para as crianças brincarem. O desafio que se impõe ao poder público é sair da lógica da gestão da carência e assumir, com orçamento e prazo, que favela não é exceção: é parte estruturante das cidades gaúchas e precisa ser tratada como tal em qualquer conversa séria sobre futuro.