Cid é culpado na narrativa da PGR sobre golpe
10/12/2025, 08:37:55Defesa de Filipe Martins e as acusações contra Cid
Advogado de Fernando Oliveira, que integrou o Ministério da Justiça, nega influência sobre a Polícia Rodoviária Federal (PRF); julgamento inclui blitzes da PRF, revelações do "Punhal Verde e Amarelo" e a minuta do golpe.
As defesas do núcleo da trama golpista, formado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com cargos estratégicos, negaram, nesta terça-feira (9), qualquer participação em irregularidades ocorridas durante o segundo turno das eleições de 2022 e após a derrota de Bolsonaro para o presidente eleito Lula (PT). A manifestação ocorreu perante a Primeira Turma do STF, em resposta ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, que reiterou a solicitação de condenação dos réus envolvidos. Entre os principais réus estão o ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, o general Mário Fernandes e o ex-assessor presidencial Filipe Martins. Esta sessão de julgamento foi testemunhada por Martins, que se dirigiu aos magistrados através de seu advogado, Jeffrey Chiquini.
No decorrer de sua argumentação, Chiquini atribuiu a responsabilidade ao tenente-coronel Mauro Cid pela tentativa de golpe de Estado e afirmou que o mesmo controlou a narrativa das acusações. Segundo o advogado, "Filipe Martins foi preso por uma viagem que não fez - por culpa de Mauro Cid -, foi denunciado por uma minuta que não existe - por culpa de Mauro Cid - e será julgado por reuniões que não participou - por culpa de Mauro Cid". De acordo com informações, Martins foi detido em 2024, após a Polícia Federal identificar seu nome em uma lista de passageiros que se dirigiriam aos Estados Unidos na comitiva presidencial, um documento que foi descoberto em um dispositivo de armazenamento que pertencera a Cid.
Em um depoimento prestado ao Supremo em 14 de julho de 2025, Cid afirmou que Martins não estava na lista final dos passageiros do voo que levaria Jair Bolsonaro para os EUA após a derrota nas eleições. Gonet, por sua vez, afirmou que Martins "contribuiu para a elaboração do decreto que romperia com as estruturas democráticas do país", referindo-se à famosa "minuta do golpe". Além disso, o procurador alegou que Martins participou da apresentação desse decreto a membros das Forças Armadas, buscando apoio militar para a tentativa de derrubada institucional.
Chiquini argumentou que "condenar Filipe Martins é condenar na palavra de Mauro Cid, que não tem credibilidade". Ele ressaltou que "Mauro Cid criou a minuta golpista; a minuta é dele, ele escreveu a minuta do golpe e ele apresentou a minuta do golpe aos comandantes". O núcleo sob julgamento no Supremo também aborda as blitzes da PRF ocorridas durante o segundo turno das eleições de 2022. Inicialmente, essas investigações eram conduzidas separadamente pela PF, mas a PGR decidiu integrá-las ao processo principal referente à tentativa de golpe.
A defesa de Fernando de Sousa Oliveira, ex-integrante do Ministério da Justiça, também refutou as acusações contra ele. Oliveira ocupou uma posição no ministério durante a gestão de Anderson Torres, que já foi condenado por sua participação no núcleo central da trama golpista. O advogado de Oliveira, Guilherme de Mattos Fontes, declarou que seu cliente não possuía a autoridade necessária para influenciar as ações da PRF durante o segundo turno das eleições e que não havia qualquer prova de uma relação entre ele e o ex-diretor Silvinei Vasques.
As defesas de outros réus, como o general Mário Fernandes e os ex-assessores da Presidência, Marcelo Costa Câmara e Marília Ferreira, também se manifestarão. O caso de Mário Fernandes é particularmente delicado, uma vez que a Polícia Federal descobriu documentos em seu poder que envolviam planejamento de assassinatos de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), utilizando armamentos militares ou envenenamento em eventos públicos. Durante seu depoimento ao STF, o general afirmou que os arquivos intitulados "Punhal Verde e Amarelo", encontrados em seu computador, eram meramente "pensamentos digitalizados" e que nunca foram compartilhados. Fernandes admitiu a existência do documento, mas tentou justificar sua natureza como uma análise do contexto atual do país.
Gonet concluiu sua manifestação afirmando que os réus foram essenciais para a gestão das principais iniciativas da organização criminosa e sua contribuição foi decisiva para caracterizar os crimes denunciados, aproveitando-se de suas posições e conhecimentos relevantes.