UMA RETROSPECTIVA FEITA PELA IDADE

O ególatra é o inverso do apologista. Este vasloriza o que presta, enquanto para o ególatra somente ele vale alguma coisa. Dos amores que tive o mais complicado me ensinou a abandoná-lo, e escolher melhor. Às minhas filhas a melhor das aprendizagens que a vida me deu

UMA RETROSPECTIVA FEITA PELA IDADE

Ao longo da vida, começamos aprendendo a repetir o que nos ensinam: andar, falar, gritar, reclamar e admirar, sempre por imitação dos mais velhos.
Depois, seguimos para a escola: a alfabetização, o curso primário — quatro anos no tempo da minha geração —, depois o ginasial, equivalente ao ensino fundamental de hoje, e por fim o científico, o atual ensino médio. Antes, claro, da faculdade — hoje chamada de graduação.

Essas são as fases cobradas pelo sistema.

Mas a idade nos ensina que ser competente é muito mais importante do que ostentar a fama de “formado” e incompetente. Formação acadêmica não constrói caráter, moral ou dignidade. E nem sempre forma pessoas capazes.

A retrospectiva que a idade nos dá mostra que a liberdade é melhor que a prisão: liberdade para fazer amizades, construir pontes e também saber nadar pelas águas da vida onde pontes não existem. É vencer dificuldades sozinho. É ser convidado pelo notório saber para funções às quais se foi forjado pelo calor dos embates e pela experiência de vida, aliada à literatura daqueles ombros nos quais nos apoiamos.

É compreender que amizades são pedras preciosas, mas que não devem ser confundidas com bijuterias. Quanto mais duradouras, mais nos aproximam de nossa geração de infância, juventude e fase adulta, ajudando-nos a nos livrar das amizades adulteradas. Preservando as boas, crescemos juntos.

Entender que aprisionar amores ou sentimentos é estabelecer data de validade para que a liberdade cobre distâncias e silêncio sepulcral — algo muito comum nos dias atuais.

Permitir que novas amizades se fortaleçam é reconhecer que a amizade sincera pode ser conquistada pela sabedoria da escolha, e não apenas pelo tempo de convivência. Quem revela quem somos são nossas atitudes e ações.

E, por fim, refletindo sobre a vida em sua plenitude, compreender que o perdão não deve ser um ato falho, mas sim um catalisador da expulsão da dor — sem que o esquecimento lhe sirva de morada, para não abrir a porta do azar para novas decepções. Perdoar é não carregar o peso do arrependimento, que significa sofrer cada vez que a lembrança nos acompanha. É como esquecer de tentar esquecer.

Aos sessenta e seis anos, permito-me escrever que esse é o My Way.

Creditos: Professor Raul Rodrigues