Votos na internet significam votos nas urnas?
02/12/2025, 07:32:51Importância da internet é para quem faz o que de fato divulga. Divulgar sua imagem sem ações concretas, é como prometer emendas e não cumpri-las. "Cumprir" no infinitivo.
Num país onde a política se mistura com paixões e crises sucessivas de credibilidade, a internet passou a ocupar o centro do debate eleitoral. Redes sociais viraram palanques, lives tornaram-se comícios improvisados e métricas de curtidas e engajamento são tratadas muitas vezes como se fossem indicadores de vitória. Mas a pergunta permanece incômoda, atual e necessária: votos na internet significam votos nas urnas? A resposta, apesar de tentadora, ainda é não — e por razões que a própria dinâmica social e política brasileira revela todos os dias.
Primeiro, há um abismo entre cliques e convicções. Curtir uma publicação, compartilhar um vídeo ou comentar impulsivamente não exige comprometimento real, muito menos reflexão profunda. O ambiente digital favorece impulsos rápidos, emoções exacerbadas e, muitas vezes, bolhas que reforçam somente aquilo que o usuário já pensa. Isso constrói a ilusão de força política, quando na verdade apenas retrata o comportamento de uma parcela barulhenta e hiperconectada, que nem sempre representa o eleitor médio — especialmente o que decide a eleição: o indeciso, o silencioso, o pragmático.
Além disso, a internet não alcança o Brasil inteiro de forma igual. Em cidades menores, periferias e zonas rurais, o impacto da política se dá no contato direto, no aperto de mão, no vizinho que indica, no líder comunitário que opina, no serviço que falta ou chega. São territórios onde o algoritmo não entra, onde o discurso digital não substitui a presença física, e onde quem aparece de verdade leva vantagem. A popularidade online pode até abrir caminhos, mas não garante o voto de quem decide com base em experiências concretas — e não em narrativas.
Outro ponto crucial é que a internet amplifica tanto verdades quanto mentiras. O candidato que domina a comunicação digital pode construir imagem, gerar agenda e formar militância, mas também pode ser vítima do mesmo ambiente volátil que o elevou. Escândalos, contradições e deslizes repercutem na velocidade da luz; viralizam mais do que propostas. E esse terreno instável não necessariamente se traduz em fidelidade eleitoral. No fim das contas, engajamento não é lealdade.
Por fim, eleições se ganham com estrutura, alianças, presença territorial, capacidade de mobilização e, claro, propostas que dialoguem com as necessidades reais da população. A internet é ferramenta — poderosa, decisiva em certos contextos — mas ainda não é urna. A vitória eleitoral continua a depender do mundo físico, do convencimento direto e das estratégias que atravessam a bolha digital.
Assim, votos na internet podem até indicar tendências, perceber humores e medir alcance momentâneo. Mas transformar isso em votos reais exige muito mais do que like, seguidor ou viralização. Exige política na sua essência: gente falando com gente, olho no olho, promessa na rua, disputa no território. Porque, no Brasil real, quem vence não é necessariamente quem domina a internet — é quem domina o eleitor.