Megaoperação desmantela fraude de R$ 26 bilhões do Grupo Refit
27/11/2025, 16:04:27Megaoperação mira esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis
O Grupo Refit, dono de ao menos uma refinaria no Rio de Janeiro e controlador de empresas de distribuição e comercialização de combustíveis, é alvo nesta quinta-feira (27) de uma megaoperação que visa desarticular um esquema de fraude fiscal que causou prejuízos de mais de R$ 26 bilhões à União. Veja: Quem é Ricardo Magro, apontado como o maior sonegador do país.
Segundo as investigações do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de São Paulo (CIRA/SP), os mais de 190 alvos desta quinta (entre pessoas físicas e jurídicas) são suspeitos de integrar uma organização criminosa envolvida em crimes contra a ordem econômica e tributária, lavagem de dinheiro e outras infrações.
O CIRA/SP já conseguiu na justiça o bloqueio de mais de R$ 10,2 bilhões em bens dos envolvidos, incluindo imóveis e veículos, como garantia de crédito tributário.
O que é o Grupo Refit?
Ricardo Magro é o empresário à frente do Grupo Refit, que tem a maior dívida de impostos de SP. Os investigadores afirmam que o Grupo Refit mantém relações financeiras com empresas e pessoas ligadas à Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto de 2025, e é apontado como um dos maiores devedores contumazes do país, acumulando débitos superiores a R$ 26 bilhões. No comando do grupo, está o empresário Ricardo Magro, dono da Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro. O Ministério Público paulista (MPSP) aponta o Refit como o maior devedor de impostos (ICMS) do estado de São Paulo.
Os esquemas de ocultação e blindagem dos verdadeiros beneficiários das fraudes eram sustentados por uma rede de colaboradores, holdings, offshores, meios de pagamento e fundos de investimento, que dificultavam o rastreamento, informou o MP. O CIRA/SP explica que o grupo criava várias camadas de fraudes e falsificações, e usava empresas e estruturas financeiras em vários níveis para dificultar a identificação dos envolvidos. Todo o esquema garantia o funcionamento da organização criminosa e a expansão do grupo empresarial em diferentes setores da cadeia de produção e distribuição de combustíveis.
Fraudes
As investigações mostram que importadoras atuavam como empresas de fachada, comprando do exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel com dinheiro repassado por formuladoras e distribuidoras ligadas ao grupo. Entre 2020 e 2025, os investigados importaram mais de R$ 32 bilhões em combustíveis. Também foi constatado que formuladoras, distribuidoras e postos de combustíveis do próprio grupo sonegavam tributos em suas operações de venda, aumentando o impacto financeiro das irregularidades e prejudicando a concorrência no setor.
Os valores movimentados pelo grupo eram concentrados em empresas financeiras controladas por eles mesmos. A Receita Federal identificou que uma grande operadora financeira atuava como sócia de outras instituições que prestavam serviços ao grupo. Esse núcleo teria movimentado mais de R$ 72 bilhões entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025. O esquema funcionava por meio de uma financeira "mãe" que controlava várias "filhas", criando operações complexas para esconder os verdadeiros beneficiários. Assim como na Operação Carbono Oculto, o grupo explorava brechas regulatórias, como as chamadas "contas-bolsão", que dificultam rastrear o caminho do dinheiro. A principal financeira mantinha 47 contas bancárias vinculadas às empresas do grupo.
Megaoperação
Batizada de Operação Poço de Lobato, para combater um sofisticado esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, a ação segue o modelo da "Operação Carbono Oculto", que mostrou a ligação da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em todo o sistema de produção e distribuição de combustíveis, utilizando fintechs e fundos de investimento para lavar dinheiro. Uma mesma empresa do Grupo Refit foi alvo da ação em agosto, na qual foram retidos quatro navios contendo aproximadamente 180 milhões de litros de combustível. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) interditou a refinaria após identificar irregularidades como possível importação com falsa declaração de conteúdo, falta de comprovação do processo de refino e indícios de uso de aditivos químicos não autorizados, que alteram o produto e podem indicar tentativa de adulteração.
Os mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Bahia. O CIRA/SP, responsável pela operação, é formado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz-SP) e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGE/SP). Participam da ação a Receita Federal, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo e as polícias Civil e Militar. O Portal iG tenta contato com representantes do Grupo Refit para comentar a operação desta quinta. O espaço segue aberto para posicionamento.