Deputados aprovam PL Antifacção em votação apressada
19/11/2025, 20:02:17Contexto da Votação
Parlamentares tiveram poucas horas para conferir as mudanças no texto, que ao todo passou por seis revisões. Guilherme Derrite (PP-SP) acionou uma espécie de Blitzkrieg, tática de guerra relâmpago utilizada pelo exército alemão nas guerras do século 20, para desnortear o governo a poucas horas da votação do PL Antifacção. A equipe técnica do governo, que elaborou a primeira versão da proposta, ainda terminava o jogo dos sete erros (mais de sete, na verdade) da quinta versão do relator quando o secretário licenciado de Tarcísio de Freitas foi lá e apresentou uma sexta modificação. Ela foi votada pela Câmara e aprovada por maioria de votos, menos de duas horas depois.
Impactos da Aprovação
Ganha uma incursão ao Complexo da Penha em dia de guerra o deputado que disser com clareza no que votou em tão pouco tempo. A aprovação, e a forma como foi aprovada a proposta de Derrite, foi compreendida como uma derrota do governo Lula. Não foi bem assim. Antes da votação, a base já havia aceitado trocar os dedos pelos anéis. Negociação política é assim, embora a turma de Derrite esteja acostumada a agir com botinadas.
Alterações no Texto
Aliados do presidente conseguiram tirar do texto os jabutis que equiparavam facções criminosas a grupos terroristas. Valeu aqui a pressão do empresariado, que não queria afugentar parceiros estrangeiros avessos a investir em um país dominado pelo terror. Há ainda pontos sensíveis, no entanto, que o governo vai tentar reverter no Senado. O principal deles é a disputa por dinheiro e a divisão entre a Polícia Federal e as estaduais. Sem contar algumas pegadinhas que, na prática, funcionam como entraves para investigações judiciais – alvo dos deputados desde a PEC da Blindagem e atualizada agora.
Próximos Passos no Senado
O texto chega ao Senado em um momento em que Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), chefes das duas Casas, se estranham. E também em um momento em que dois modelos de combate ao crime estão em jogo. Um é o que a polícia de Cláudio Castro promoveu no Rio no fim de outubro, que resultou na morte de 121 pessoas, entre elas policiais, e não deixou a vida de ninguém mais segura. O outro modelo são as ações de inteligência da PF, hoje em xeque. No dia da votação do PL Antifacção, a corporação foi às ruas para prender os responsáveis por uma das maiores fraudes bancárias já registradas no país. Isso sem dar um tiro para o alto, como já havia feito na Operação Carbono Oculto, que desmantelou e asfixiou os elos entre PCC (uma facção, vale lembrar) e o sistema financeiro.
Urgência e Consequências
As duas ações da PF possuem vasos comunicantes e chegam perto de grupos políticos influentes. Daí a urgência em votar, sem nem mesmo dar tempo de reação aos opositores, projetos que dificultem ações de inteligência e ampliem a blindagem dos amigos – quando não deles mesmos.