Deputados aprovam PL Antifacção em votação apressada

Deputados aprovam PL Antifacção em votação apressada

Contexto da Votação

Parlamentares tiveram poucas horas para conferir as mudanças no texto, que ao todo passou por seis revisões. Guilherme Derrite (PP-SP) acionou uma espécie de Blitzkrieg, tática de guerra relâmpago utilizada pelo exército alemão nas guerras do século 20, para desnortear o governo a poucas horas da votação do PL Antifacção. A equipe técnica do governo, que elaborou a primeira versão da proposta, ainda terminava o jogo dos sete erros (mais de sete, na verdade) da quinta versão do relator quando o secretário licenciado de Tarcísio de Freitas foi lá e apresentou uma sexta modificação. Ela foi votada pela Câmara e aprovada por maioria de votos, menos de duas horas depois.

Impactos da Aprovação

Ganha uma incursão ao Complexo da Penha em dia de guerra o deputado que disser com clareza no que votou em tão pouco tempo. A aprovação, e a forma como foi aprovada a proposta de Derrite, foi compreendida como uma derrota do governo Lula. Não foi bem assim. Antes da votação, a base já havia aceitado trocar os dedos pelos anéis. Negociação política é assim, embora a turma de Derrite esteja acostumada a agir com botinadas.

Alterações no Texto

Aliados do presidente conseguiram tirar do texto os jabutis que equiparavam facções criminosas a grupos terroristas. Valeu aqui a pressão do empresariado, que não queria afugentar parceiros estrangeiros avessos a investir em um país dominado pelo terror. Há ainda pontos sensíveis, no entanto, que o governo vai tentar reverter no Senado. O principal deles é a disputa por dinheiro e a divisão entre a Polícia Federal e as estaduais. Sem contar algumas pegadinhas que, na prática, funcionam como entraves para investigações judiciais – alvo dos deputados desde a PEC da Blindagem e atualizada agora.

Próximos Passos no Senado

O texto chega ao Senado em um momento em que Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), chefes das duas Casas, se estranham. E também em um momento em que dois modelos de combate ao crime estão em jogo. Um é o que a polícia de Cláudio Castro promoveu no Rio no fim de outubro, que resultou na morte de 121 pessoas, entre elas policiais, e não deixou a vida de ninguém mais segura. O outro modelo são as ações de inteligência da PF, hoje em xeque. No dia da votação do PL Antifacção, a corporação foi às ruas para prender os responsáveis por uma das maiores fraudes bancárias já registradas no país. Isso sem dar um tiro para o alto, como já havia feito na Operação Carbono Oculto, que desmantelou e asfixiou os elos entre PCC (uma facção, vale lembrar) e o sistema financeiro.

Urgência e Consequências

As duas ações da PF possuem vasos comunicantes e chegam perto de grupos políticos influentes. Daí a urgência em votar, sem nem mesmo dar tempo de reação aos opositores, projetos que dificultem ações de inteligência e ampliem a blindagem dos amigos – quando não deles mesmos.