PL das facções trará solução? Ou mais um problema?

Matar centenas explode uam sensação de segurança futura, mas tudo pode não passar de priotecnia.

PL das facções trará solução? Ou mais um problema?

Há momentos em que o Brasil parece repetir velhos enredos com atores novos. O chamado “PL das facções”, que pretende tipificar e endurecer o combate às organizações criminosas, chega ao Congresso embalado como grande promessa de enfrentamento ao crime. Mas, como quase tudo em matéria de segurança pública divide o país, o diabo mora nos detalhes — e nos atalhos políticos.

O debate nasce de uma realidade incontornável: facções se expandiram, diversificaram suas fontes de renda, infiltraram-se em territórios e instituições. Estados falharam, União hesitou, municípios fecharam os olhos. Agora, tenta-se corrigir décadas de omissão com uma canetada legislativa. Será suficiente? Difícil acreditar.

A primeira promessa do PL é endurecer o jogo. Aumenta penas, amplia tipos penais, cria novos enquadramentos para lideranças e para quem colabora com estruturas criminosas. No papel, tudo parece funcional — como sempre parece. Na prática, abre-se mais um flanco para superencarceramento, para prisões em massa de pequenos infratores e para um sistema prisional já dominado pelas mesmas facções que o projeto pretende combater.

Há ainda o risco daquilo que o Brasil mais produz: legislação simbólica. O Congresso adora a aparência de ação. Aprova leis que, no dia seguinte, viram manchetes, mesmo que jamais virem política pública efetiva. O PL das facções corre esse risco. Ao invés de investir em inteligência, rastreamento financeiro, cooperação federativa e reestruturação penitenciária, cria-se mais uma camada de punição, como se o crime organizado fosse movido por medo de parágrafos.

Outro ponto cego: a lei não toca naquilo que sustenta as facções — economia subterrânea, ausência do Estado e corrupção. Nada adianta endurecer penas se os mesmos agentes públicos corrompidos continuam vendendo proteção; se bairros periféricos seguem órfãos de Estado; se a lavagem de dinheiro continua fluindo por empresas de fachada e por sistemas financeiros cúmplices.

O PL pode até ser usado como instrumento político. Em ano pré-eleitoral, quem não quer posar de “duro contra o crime”? A bandeira rende votos, dispara likes e alimenta narrativas de ordem, mesmo que a ordem nunca apareça. O cidadão comum, desesperado por segurança, pode ser seduzido por uma falsa sensação de solução.

A pergunta central, no entanto, continua ecoando: o país quer combater facções ou quer apenas combatê-las no discurso? Porque combater de verdade exige integração policial, investimento pesado em tecnologia, reformas no sistema prisional e políticas sociais reais — e não discursos inflamados.

Se aprovado sem um plano integrado, o PL das facções tende a ser mais um problema embrulhado como solução. O Brasil já viu esse filme. Endurecimento penal sem estratégia só alimenta o monstro que se pretende matar.

O risco é claro: transformar o PL em bandeira política, e não em política pública. E, nesse caso, a resposta para a pergunta inicial é simples — resolver, não resolve; complicar, complica

Creditos: Professor Raul Rodrigues