A "inocência" do ególatra o leva a servir ao inverso do seu interior
05/11/2025, 03:17:50Quando o espelho é o altar e o reflexo é o inimigo que se disfarça de si mesmo
O ególatra é, por natureza, um servo da própria imagem — um adorador do reflexo que acredita ser essência. Mas há uma inocência perversa nesse tipo de vaidade: ele imagina que domina o próprio destino, quando na verdade é conduzido por aquilo que mais teme — o vazio que tenta esconder.
A inocência do ególatra não é a do puro, mas a do cego. Ele crê estar no controle de si, quando é refém da necessidade de ser visto, lembrado e aplaudido. Sua moral é o aplauso, sua fé é o reconhecimento. Porém, nessa ânsia de ser centro, ele se distancia do próprio interior, servindo ao inverso de sua alma: o exterior que o consome.
E assim, o ególatra se torna o oposto do que acredita ser. Pensa ser líder, mas é conduzido pelos olhares alheios; julga ser livre, mas é prisioneiro da própria imagem; acredita amar a si mesmo, mas o que ama é a ilusão que construiu diante do espelho.
Em cada gesto de vaidade, há um traço de fragilidade. O sorriso ensaiado, a fala calculada, o gesto teatral — tudo compõe o ritual da insegurança disfarçada. E quanto mais o ególatra tenta provar força, mais revela a ausência de paz interior.
Ao fim, sua inocência é também sua condenação. Pois quem vive para servir à própria imagem termina servindo ao inverso de sua essência — o vazio. O ególatra não percebe que o reflexo, por mais belo que pareça, não tem profundidade. E o espelho, esse confidente silencioso, é também o seu mais cruel carrasco.