Megaoperação do RJ e o destino do governo Lula
02/11/2025, 10:22:31Entre blindados e promessas, o Rio de Janeiro expõe o maior desafio do governo Lula: combater o crime sem perder o discurso social que o elegeu.
O Rio de Janeiro volta a ser o espelho rachado do Brasil. A megaoperação deflagrada recentemente no estado — envolvendo forças federais,

estaduais e municipais — não é apenas uma ação contra o crime organizado. É um retrato ampliado de um país que ainda tenta se equilibrar entre a lei e o caos, entre o discurso da segurança e a realidade das ruas.
Por trás dos blindados e dos helicópteros, há um governo federal que sente o peso das consequências políticas de cada bala disparada. Para o presidente Lula, o Rio não é apenas um território em conflito, mas um campo simbólico de sua própria gestão. Cada operação policial mal conduzida, cada morte sem explicação, cada cena de guerra urbana serve como munição para os opositores e como desgaste para quem está no poder.
A megaoperação, embora necessária sob o ponto de vista da ordem pública, expõe um dilema histórico: o Estado brasileiro só aparece nas periferias quando chega com fuzis e sirenes. Faltam escolas, empregos e políticas sociais sustentáveis — mas sobram incursões que reforçam o medo e não necessariamente resolvem o problema.
Para Lula, o desafio é duplo. De um lado, precisa mostrar firmeza diante da criminalidade crescente; de outro, não pode trair o discurso humanista que sempre defendeu. A linha é tênue entre o dever de governar e o risco de reproduzir o velho modelo de segurança pública que fracassou nas últimas décadas.
O destino do governo Lula, em boa parte, passa por como ele lidará com crises como a do Rio. A segurança pública, que sempre foi vista como uma pauta “da direita”, hoje exige uma resposta de Estado — e não de ideologia. Se o governo federal não conseguir demonstrar resultados concretos, o desgaste político pode se transformar em combustível para adversários que já ensaiam seus discursos de 2026.
O Brasil, e especialmente o Rio, cobram do governo mais do que operações pontuais. Cobram uma reconstrução de confiança. E, neste tabuleiro de pólvora, o que está em jogo não é apenas o sucesso de uma operação policial, mas a própria narrativa de um governo que prometeu reconstruir o país — inclusive onde o Estado há muito tempo deixou de existir.