RJ: Quando os bandidos fecham bairros inteiros com ações letais, tudo é normal
29/10/2025, 06:52:16Estive na cabeceira da Ponte Rio/Niterói em 2015 e de lá desisti de conhecer a cidade do Rio de janeiro, seus pontos turísticos, o Ninho do Urubu para Rebeca trazer em suas lembranças, e a sede do Vasco, por medo de não voltarmos vivos.
O Rio de Janeiro virou um retrato doloroso do que acontece quando a barbárie se torna rotina e a sociedade aprende a conviver com o inaceitável. Nos noticiários, os helicópteros mostram fumaça, tiros, barricadas e ruas desertas, mas ninguém mais se espanta. O anormal virou cotidiano. Os bandidos fecham bairros inteiros, isolam comunidades, impõem toque de recolher, queimam ônibus e decretam feriados forçados — e o resto do país assiste, impassível, à agonia da cidade que um dia foi símbolo de beleza e civilidade.
No Rio, o crime organizado se comporta como Estado paralelo, e o Estado verdadeiro parece aceitar o papel de coadjuvante. As facções delimitam território, cobram taxas, determinam regras e punem com a força do medo. Enquanto isso, o cidadão comum vive entre dois fogos: de um lado, a violência do tráfico e das milícias; do outro, a omissão de autoridades que se acostumaram a administrar o caos.
A tragédia carioca não é apenas policial — é moral, social e política. Quando se chega ao ponto de naturalizar o fechamento de bairros inteiros por criminosos armados, já se perdeu mais do que a segurança: perdeu-se a noção de Estado, de autoridade e de futuro. A indiferença virou uma forma de sobrevivência.
O Rio de Janeiro está se tornando um laboratório do fracasso da civilização brasileira. A cidade que já foi “maravilhosa” agora se divide entre zonas de medo e zonas de fingimento. No asfalto, as pessoas fingem que está tudo bem; no morro, as pessoas fingem que ainda têm escolha.
Quando o crime dita o ritmo e o governo obedece ao silêncio, não é mais a cidade que está sitiada — é a esperança. E quando o país se acostuma a assistir tudo isso como se fosse apenas mais um episódio do dia, o verdadeiro colapso não está nas ruas do Rio, mas nas consciências do Brasil.

