Moradores do RJ enfrentam medo após operação policial
28/10/2025, 19:32:51Impactos da Operação no Complexo da Penha e Alemão
Ação contra o Comando Vermelho resultou em 64 mortos e afetou a vida de cariocas em diferentes bairros da cidade. Moradores relatam medo e caos após a operação no Alemão e na Penha. A megaoperação contra o núcleo do Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha e no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou ao menos 64 mortos e 81 presos nesta terça-feira (28). A ação, a mais letal da história recente do estado, causou um rastro de medo e transtornos que se espalharam por toda a capital. Mas o impacto da operação ultrapassou as fronteiras das comunidades. Em diferentes bairros, moradores viram a rotina virar de cabeça para baixo com aulas, consultas médicas e deslocamentos cancelados.“Apesar de não morar em uma comunidade próxima aos eventos, também fui prejudicado”, contou ao Portal iG Wellington Mello, analista de comunicação. “Tinha uma consulta marcada na Clínica da Família aqui em Rio das Pedras, mas foi remarcada porque os funcionários foram liberados. Minhas aulas particulares de luta também foram suspensas, já que alguns alunos passam por vias afetadas, como a Linha Vermelha.”
Consequências e Apreensão
Impactos no trabalho não tardaram a aparecer. “Tínhamos um evento amanhã, na Glória, mas fomos dispensados. Mesmo quem mora longe sente o impacto. O Rio inteiro para”, diz Wellington. Moradores de Olaria, região cercada pelos dois complexos, relataram tiroteios intensos desde a madrugada. Foi o caso de J.B. (que preferiu não se identificar), que vive na pista, fora da comunidade, mas a poucos metros das áreas de confronto. “Acordei às 4h30 com muitos tiros. Moro em primeiro andar e evito me expor. Tinha um tratamento clínico pela manhã e aulas à tarde na Urca, mas não consegui ir. Os ônibus pararam, o comércio está vazio, e o clima é de apreensão”, relatou ao iG. “Moro aqui desde criança. Já vivemos várias operações, mas essa está assustadora. Chegam notícias o tempo todo nos grupos do bairro, falam de saques, de mortos e a gente nunca sabe o que é verdade.”M.M. (que também preferiu não se identificar), moradora também de Olaria, precisou se abrigar com o filho de 5 anos durante o confronto. “Às 4h da manhã já fomos acordados com tiroteio, bombas e helicópteros. As linhas de ônibus que uso passam pela Penha e pararam de circular. Não dá para sair de casa”, diz. “Em uma ocasião anterior, uma bala perdida entrou no meu quarto. Hoje, quando começou, levei meu filho para a cozinha, é o lugar mais seguro do apartamento.” Ela conta que a tensão permanece mesmo horas depois do início da operação: “Agora à tarde o tiroteio diminuiu, mas ainda ouço tiros de longe. O clima é tenso, o comércio está fechado e até minha aula na faculdade em Bonsucesso foi cancelada.”
A sensação de insegurança também foi relatada por B.F., empresário que precisou liberar funcionários mais cedo e viu a mãe se arriscar no trânsito durante o caos. “A gente é trabalhador, mas acaba refém. Hoje de manhã minha mãe estava na Linha Amarela indo trabalhar quando tudo fechou. No desespero, teve que voltar na contramão”, conta. “A empresa é da família, então conseguimos liberar todo mundo, mas e quem não pode? Muita gente perde o dia, o sustento. É uma situação delicada. O medo é grande.” O morador afirma que teme por funcionários que vivem em comunidades e dependem da mobilidade urbana: “Temos equipe na rua, gente que mora perto das áreas de confronto. A cidade para, e a preocupação é só uma: chegar em casa vivo.”
Reações nas Redes Sociais
Moradores fizeram seus relatos no XA dimensão do medo e da paralisia social também se refletiu nas redes sociais. No X (antigo Twitter), moradores relataram em tempo real o avanço dos confrontos para além da Penha e do Alemão. “O caos do Comando Vermelho chegando aqui no ‘interior’ do RJ, meu Deus”, escreveu um usuário, indicando que os reflexos da violência atingiram até cidades da região metropolitana. Outra moradora relatou a fuga às pressas: “Comando Vermelho me fazendo sair mais cedo do colégio.” Um terceiro internauta comparou o clima nas ruas com o de um filme de terror urbano: “As principais vias interditadas pelo Comando Vermelho, botando fogo em tudo. Quem sai na rua é assaltado, igual aquele filme Uma Noite de Crime.”O governo do Rio de Janeiro classificou a operação como “necessária para enfraquecer a estrutura do tráfico”. Com o Rio em alerta, ruas esvaziadas e transporte paralisado, moradores tentam retomar aos poucos o cotidiano, mas o clima é de incerteza. “O pior é que a gente se acostuma com o barulho dos tiros”, desabafa J.B.. “Mas no fundo, ninguém se acostuma com o medo.”