A mulher sem pescoço da vergonha que é

Quando a altivez some e o olhar já não se ergue, resta apenas o retrato da vergonha disfarçada de “poder”. Casa para ser mal amada. Nada genérico, apenas com endereço certo.

A mulher sem pescoço da vergonha que é

Há pessoas que andam de cabeça erguida, não por vaidade, mas por consciência tranquila. E há outras que, mesmo cobertas de joias, cargos e holofotes, não conseguem sustentar o próprio olhar. São os que perderam o pescoço — não por fatalidade anatômica, mas por covardia moral.

A mulher sem pescoço da vergonha que é não precisa ser nomeada; ela se reconhece em cada espelho onde evita se encarar. É aquela que dobrou sua dignidade ao primeiro convite do poder, que se curvou ao mando dos homens que sempre fingiu combater, e que hoje vive de discursos reciclados e sorrisos ensaiados.

Perdeu o pescoço quando deixou de dizer “não” à corrupção, quando aceitou o favor que custava caro à decência, quando se calou diante da injustiça que antes prometia denunciar. Seu pescoço desapareceu nas curvas das conveniências políticas, nas festas do faz de conta e nas fotos que hoje são lembrança de um tempo em que ainda restava vergonha.

A mulher sem pescoço é símbolo de uma era em que a ética é maleável e a vaidade substitui o valor. Sua postura é a tradução exata do que se tornou a política rasteira — um corpo sem espinha, sem voz, sem pudor.

E o povo, que tudo vê, percebe. Já não aplaude, já não acredita. Porque quem anda sem pescoço, anda sem direção. E quem perde a vergonha, perde também o respeito — o último fio que sustenta o nome de quem um dia quis ser exemplo.

No teatro da política, essa mulher virou personagem de si mesma: uma atriz sem pescoço, sem vergonha e sem história que o tempo queira lembrar.