Lula e Trump: O Desafio do Diálogo Internacional

Lula e Trump: O Desafio do Diálogo Internacional

O Encontro Marcante

O presidente Lula (PT) conseguiu o que queria ao viajar até a Malásia e se reunir com Donald Trump, por cerca de 50 minutos, em Kuala Lumpur. A ideia era mostrar disposição ao diálogo sem entregar ao lobo, do outro lado da mesa, os anéis, os dedos e o antebraço.

Reações e Expectativas

A foto oficial do encontro mostra que Trump não morde. Ele até sorri e afaga quem antes declarava inimigo. Ou porque identificou no interlocutor um peso que não viu em Volodymyr Zelensky e Cyril Ramaphosa, chefes de Estado humilhados por ele diante das câmeras, ou porque tinha mais a perder se mantivesse o tom das ameaças que marcou a escalada da guerra comercial contra o Brasil desde o início.

Os auxiliares do republicano certamente apostavam, em agosto, que Lula seria em breve carta fora do baralho. E que a essa altura do ano que vem estariam cumprimentando um novo presidente por aqui, mais alinhado aos interesses de Washington. Não foi o que aconteceu. Pelo contrário.

A Indústria Brasileira e os Desafios Comerciais

Os ataques ao comércio e às autoridades brasileiras não fizeram o Supremo Tribunal Federal, um poder independente, recuar um milímetro durante o julgamento de Jair Bolsonaro (PL), hoje a única liderança nacional capaz de fazer frente a Lula em uma eventual disputa à Presidência. Condenado e em prisão domiciliar, Bolsonaro está fora do jogo e o sucessor ainda não está claro. Não está claro nem quem será o candidato nem se terá apoio amplo de um campo fragmentado desde que o líder da seita decidir bater o pé e atacar o processo eleitoral do qual saiu derrotado em 2022.

A Postura de Lula

Lula foi até Trump dizer o óbvio: ele não tem como interferir na Justiça brasileira porque é chefe de outro Poder, o Executivo. E que não fazia sentido a choradeira do republicano sobre uma relação comercial centenária com o Brasil da qual os Estados Unidos sempre levaram vantagem.

Quem não levou vantagem na história toda foi o eleitor de Trump, que agora precisa pagar mais caro se quiser tomar o café brasileiro ou construir uma casa preparada para o inverno com a madeira compensada produzida no Sul do país.

Perspectivas Futuras

Trump percebeu que a ofensiva contra o Brasil não levaria às mudanças na velocidade como ele gostaria. Na véspera, Lula avisou que será candidato à reeleição. O que, nas condições atuais, indica que ele será reeleito. E é com ele que Trump deverá negociar, goste ou não.

O chefe da Casa Branca talvez não passasse no detector de mentira, mas não perdeu a chance de dizer diante das câmeras que gostava do Brasil e do seu presidente. Deu até parabéns pelo aniversário de 80 anos do chefe de Estado brasileiro.

Discussões em Pauta

Não se sabe o que eles conversaram no escurinho de evento – e a pauta de reivindicações de Lula era extensa, ele avisou – mas para a extrema direita ficou mais difícil acreditar que virá dos Estados Unidos o míssil salvador com um super-herói de face alaranjada disposto a resgatar o mito da prisão.

Seguirão apostando no quanto pior, melhor. E Lula terá a faca e o queijo na mão para dizer que do outro lado estão os falsos patriotas que não têm sequer vergonha para pedir um ataque militar por aqui.

A Continuidade da Crise

O encontro, de toda forma, não é um capítulo final da crise. Se fosse, Trump mandaria ainda hoje suspender as tarifas absurdas sobre as exportações brasileiras. Lula tem as armas dele: a proximidade com a China, hoje o maior parceiro comercial do Brasil, e um projeto, junto ao Brics, para desdolarizar a economia mundial – uma conversa que deixa vermelhas as faces mais alaranjadas.

O jogo segue duro. E ele mal começou.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG