Lula se oferece para mediar tensão entre EUA e Venezuela

Lula se oferece para mediar tensão entre EUA e Venezuela

Segundo o chanceler Mauro Vieira, Lula afirmou ao americano que a América do Sul é uma região de paz e que o Brasil estaria disposto a atuar pra a promoção da paz e do entendimento entre as nações.

VICTORIA DAMASCENO KUALA LAMPUR, MALÁSIA (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se colocou à disposição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para atuar como mediador da crescente tensão militar entre Washington e a Venezuela.

Segundo o chanceler Mauro Vieira, Lula afirmou ao americano que a América do Sul é uma região de paz e que o Brasil estaria disposto a atuar pra a promoção da paz e do entendimento entre as nações. "Lula levantou o tema, disse que a América Latina e América do Sul, especificamente onde estamos, é uma região de paz e ele se prontificou a ser um contato, ser um interlocutor, como já foi no passado, com a Venezuela para se buscar soluções que sejam mutuamente aceitáveis e corretas entre os dois países", afirmou. Lula e Trump se encontraram na tarde deste domingo (26) em Kuala Lampur, na Malásia, onde participam da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, em português). O encontro ocorreu por volta das 16h do horário local (5h de Brasília) e durou cerca de 50 minutos. O tema principal da conversa foram as tarifas impostas pelo americano ao Brasil, mas outros assuntos também foram tratados. Antes de entrar na conversa com o petista, Trump afirmou que a Venezuela não seria um assunto da reunião, quando questionado por jornalistas. "Eu não acho que nós vamos discutir isso", declarou. A iniciativa partiu de Lula, que já havia afirmado que traria o tema na negociação. A avaliação do governo brasileiro é de que uma incursão militar na Venezuela traria instabilidade na região e afetaria negativamente o Brasil. A proposta brasileira ocorre em meio a um aumento das hostilidades entre EUA e Venezuela. Na sexta (24), o Pentágono anunciou o envio ao Caribe do USS Gerald R. Ford, o maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, e outras embarcações que o acompanham. "A presença das forças americanas na área de responsabilidade do Comando Sul reforçará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e desmantelar atividades e atores ilícitos que comprometam a segurança e a prosperidade do território nacional dos EUA e nossa segurança no Hemisfério Ocidental", escreveu Sean Parnell, porta-voz do Pentágono, em publicação no X. A fala do porta-voz carrega o argumento de combate ao narcotráfico que tem sido usado pelo presidente americano, Donald Trump, para justificar a explosão de embarcações na América Latina desde setembro, muito embora nenhuma evidência de que os barcos fossem ligados ao narcotráfico tenha sido apresentada – mesmo que fossem, a explicação usada pela Casa Branca para os ataques é nebulosa à luz do direito internacional e criticada por governos da região, oposição e especialistas. Na sexta (24), ainda na Indonésia, Lula havia criticado os ataques dos EUA a embarcações, quando declarou que "os usuários são responsáveis pelos traficantes que são vítimas dos usuários também" – depois, ele se retratou pela frase, que diz ter sido mal colocada. "É muito melhor os Estados Unidos se disporem a conversar com a polícia dos outros países, com o Ministério da Justiça de cada país, para a gente fazer uma coisa conjunta. Porque se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer. Onde é que vai surgir a palavra respeitabilidade da soberania dos países? É ruim. Então eu pretendo discutir esses assuntos com o presidente Trump, se ele colocar na mesa", afirmou Lula na entrevista coletiva em Jacarta. Em um agravamento das tensões, Trump avalia planos para atacar instalações de cocaína e rotas de tráfico de drogas dentro da Venezuela, embora ainda não tenha tomado uma decisão sobre isso, segundo a emissora americana CNN, que afirma ter ouvido três autoridades americanas. Na véspera, o ditador Nicolás Maduro afirmou "não à guerra louca" e pediu "peace forever" diante dos ataques dos EUA. A retórica de Trump sobre o tema tem se intensificado nos últimos dias. O americano também estendeu seu alvo para o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, o primeiro líder colombiano de esquerda e crítico aberto de Trump, com quem tem tido atritos desde que o republicano voltou à Casa Branca. Trump chamou Petro de "líder de drogas ilegais" e, logo em seguida, o Pentágono anunciou que havia destruído uma embarcação supostamente pertencente à guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional (ELN). Nos dias seguintes, as farpas entre os dois líderes continuaram, com Petro acusando Trump de promover execuções extrajudiciais. Na sexta (24), a Casa Branca impôs sanções a Petro sob o argumento de que o colombiano contribui "com a proliferação internacional de drogas" – os EUA congelaram eventuais bens de Petro e familiares no país.