Terra já cruzou 7 dos 9 limites planetários
25/10/2025, 15:35:18A Terra e os Limites Planetários
A Terra já ultrapassou sete dos nove limites planetários — indicadores que medem se o planeta continua operando dentro das condições necessárias para sustentar uma vida humana segura. É o que aponta o Stockholm Resilience Centre, da Universidade de Estocolmo, em uma nova atualização divulgada em setembro deste ano.
O destaque vai para o rompimento do limite seguro da acidificação dos oceanos, causada pelo aumento de CO2 na atmosfera. Sob a presidência do Brasil, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém, deve colocar em pauta políticas globais de combate às alterações do clima.
Limites Planetários
O conceito de limites planetários foi criado em 2009 pelo cientista alemão Johan Rockström. Esses limites são definidos por nove parâmetros seguros para se manter a vida humana na Terra e funcionam como "pontos de virada" que, ao serem cruzados, podem gerar mudanças ambientais irreversíveis.
Entre os nove existentes, já ultrapassamos sete: mudanças climáticas; perda de biodiversidade; mudanças no uso da terra; uso de água doce; ciclo do nitrogênio e fósforo; poluição química; e, atualizado em 2025, acidificação dos oceanos. Os dois limites que não cruzamos foram aerossóis na atmosfera e a degradação da camada de ozônio, ambos freados por ações internacionais.
Desafios e Ações
Segundo Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (CEAS) da Universidade de São Paulo (USP), o planeta está perto de ultrapassar os limites do espaço de operação segura para a existência da vida. Ele destacou dados sobre o clima e temas que as principais economias do mundo devem discutir na COP30 durante a palestra “Sociedade e mudanças climáticas”, do curso de Divulgação Científica para Comunicadores e Jornalistas, oferecido pela USP. Para ele, o assunto deixou de ser apenas uma questão científica e passou a representar um desafio para toda a sociedade.
"É um reflexo da crise ambiental e climática que estamos passando agora, que nós vamos tratar na COP30 e provavelmente nas próximas 40 COPs que vierem pela frente", analisa o especialista.
Impactos dos Gases de Efeito Estufa
Os assuntos a serem pautados pelo Brasil durante a COP30 incluem a adaptação às mudanças climáticas e a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), que são responsáveis pela retenção do calor que a Terra emite. Segundo Artaxo, o aumento constante dessas emissões é uma das principais causas do rompimento dos limites planetários. Dados de 2024 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU responsável por avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas, indicam que o planeta emite 57,1 bilhões de toneladas desses gases anualmente.
"A maior parte é resultado da queima de combustíveis fósseis. Com as emissões, nós estamos mudando a composição da atmosfera terrestre. Este é o cerne da questão", afirma.
Brasil como Exemplo de Sustentabilidade
Atualmente, 81% da energia usada no mundo ainda vem de combustíveis fósseis, enquanto cerca de 60% da energia produzida no Brasil vem de usinas hidrelétricas. Entre os 20 principais países do mundo (G20), o Brasil se destaca como líder em sustentabilidade na geração de eletricidade, com 90% da energia produzida de forma sustentável. A energia hidrelétrica representa cerca de 60% da matriz energética brasileira.
Objetivos da COP30
Paulo Artaxo enfatiza que o bom exemplo do Brasil e a urgência em reduzir as emissões de GEEs devem ser discutidos na conferência climática de Belém. Ele destaca que a COP deve resolver cinco pontos centrais:
- Realizar a transição justa e rápida de combustíveis fósseis para energias sustentáveis;
- Eliminar desmatamento de florestas tropicais até 2030;
- Efetivar mecanismos de financiamento climático para países em desenvolvimento;
- Implementar políticas de adaptação ao novo clima;
- Enfatizar o multilateralismo, reforçando a aliança dos BRICS.
O professor analisa que os dois primeiros tópicos deverão lidar com cerca de 75% das emissões. "O que nós vamos fazer até 2030 é crítico para o futuro do planeta como um todo, em particular na segunda metade deste século. Tão importante quanto isso é quem vai decidir qual caminho vamos traçar. A questão climática é chave para o futuro do planeta", finaliza Artaxo.