Afinal, verear não é fiscalizar e concluir?

Para a “gaiola das loucas”, o mandato é palanque, plateia e cabide. Ex-vereador critica até a obrigação dos vereadores.

Afinal, verear não é fiscalizar e concluir?

Afinal, o que significa vereador? A etimologia vem de “verear”, que é cuidar, zelar, representar, fiscalizar e concluir ações em benefício do povo. Mas parece que, em algumas câmaras municipais, essa definição foi rasgada e trocada por uma prática que mais se assemelha a um espetáculo grotesco — uma verdadeira “gaiola das loucas”, onde o microfone virou espelho e o plenário, palco de vaidades.

Verear é verbo de ação e responsabilidade. O vereador tem a missão constitucional de fiscalizar o Executivo, cobrar transparência, acompanhar obras, questionar contratos e representar o contribuinte que paga a conta. Porém, em certas casas legislativas, o que se vê são sessões recheadas de discursos vazios, trocas de favores, aplausos entre pares e uma completa ausência de fiscalização efetiva.

A “gaiola” se instala quando o mandato deixa de ser um instrumento de cidadania e vira um jogo de interesses, onde o vereador evita confrontar o prefeito para garantir migalhas políticas ou um empreguinho para o apadrinhado. Nesse ambiente, o dever é esquecido, e o povo, mais uma vez, é transformado em figurante.

Fiscalizar dá trabalho. Exige estudo, coragem e compromisso com o bem público. É muito mais fácil posar para fotos, postar nas redes e dizer que “está trabalhando”, enquanto o dinheiro público escorre por entre os dedos da inércia.

Concluir, então, é verbo inexistente para os que vivem de protelar, omitir e teatralizar. Verear, para essa turma, não é servir; é se servir.

A Câmara deveria ser a caixa de ressonância da voz popular, não o camarote de um circo. E quando a política se transforma em comédia, quem paga o ingresso é sempre o povo — com impostos altos, serviços precários e promessas que nunca saem do papel.

No fim das contas, vereador que não fiscaliza é cúmplice, não representante. E nas gaiolas onde impera o riso e o disfarce, o que falta é justamente o que mais se espera: seriedade.

Porque, afinal, verear é fiscalizar e concluir — mas para a gaiola das loucas, isso é pedir demais.

Creditos: Professor Raul Rodrigues