Com a direita dividida, Lula anuncia quarto mandato em disputa

Fragmentação do campo conservador abre espaço para o retorno da estratégia petista de hegemonia política

Com a direita dividida, Lula anuncia quarto mandato em disputa

A política brasileira se prepara para mais um capítulo de sua história cíclica e imprevisível: Luiz Inácio Lula da Silva sinaliza sua disposição em disputar um quarto mandato presidencial, e o faz no momento em que a direita, antes unida em torno de um discurso moral e antipetista, encontra-se em frangalhos. A fragmentação das lideranças conservadoras, somada à ausência de um nome com apelo nacional, cria o ambiente ideal para o retorno de um velho protagonista: o lulismo como força de estabilidade eleitoral.

Lula, experiente em medir o termômetro político do país, percebeu a oportunidade que o desarranjo oposicionista lhe oferece. A direita, que outrora se mobilizou sob o manto da indignação, hoje se perde em brigas internas, disputas regionais e personalismos. De um lado, há quem defenda uma direita liberal e democrática; de outro, o bolsonarismo resiste com seu núcleo radical e cada vez mais isolado. No meio desse campo minado, o eleitor conservador se vê órfão — e o eleitorado órfão é sempre o terreno fértil para o retorno do líder carismático.

Enquanto a direita se engalfinha, Lula aposta na narrativa da continuidade e da comparação. A tática é simples, porém eficaz: lembrar o eleitor de que, nas crises passadas, foi ele quem “recolocou o país nos trilhos”. A estratégia mira tanto a base fiel do PT quanto os indecisos que buscam estabilidade num cenário de incertezas. E, mesmo desgastado por anos de polarização e pela sombra do antipetismo, o presidente volta a ocupar o centro do debate — algo que nenhum de seus adversários conseguiu fazer com a mesma força simbólica.

Mas o eventual quarto mandato de Lula não seria apenas uma vitória eleitoral. Seria o coroamento de uma estratégia de persistência e cálculo político. Lula compreendeu como poucos que, em tempos de crise moral e institucional, o que mais seduz o eleitor é a sensação de “segurança conhecida”. E ele oferece exatamente isso: o retorno do velho discurso da inclusão social, aliado a uma retórica de “paz e reconstrução” frente ao caos que a direita insiste em reproduzir em seus próprios bastidores.

A ironia é que, quanto mais a direita se divide, mais forte se torna o projeto de poder que ela jurou derrotar. E enquanto cada facção conservadora tenta provar sua pureza ideológica, Lula ensaia o mesmo gesto de sempre: o abraço político que transforma adversários em aliados de conveniência.

Se confirmada sua candidatura, a disputa de 2026 não será apenas entre nomes, mas entre narrativas: de um lado, o veterano que sobreviveu a todos os vendavais; de outro, uma direita fragmentada tentando reencontrar seu discurso. E, como a história recente mostra, em política brasileira, quem consegue impor a narrativa — e manter a calma no meio do caos — leva vantagem.

O peso do Nordeste e o termômetro de Alagoas

No tabuleiro eleitoral, o Nordeste continua sendo o pilar da resistência lulista. É ali que o carisma do ex-presidente se traduz em votos e onde a memória dos programas sociais permanece viva. Estados como Alagoas, Bahia e Ceará têm papel decisivo na sustentação dessa base. Em Alagoas, por exemplo, o lulismo sobrevive mesmo diante das alianças cambiantes das elites locais — que se aproximam do governo federal quando lhes convém, mas que jamais conseguem desmontar o enraizamento popular do petismo.

Com a direita dividida e a elite regional hesitante, Lula tende a reforçar sua presença no Nordeste como âncora moral e simbólica de seu projeto nacional. Ali, mais do que números, ele encontra fidelidade política construída em décadas de promessas cumpridas e gestos simbólicos. Se o Brasil ainda é um país de contrastes, o Nordeste continua sendo o retrato mais fiel da força de um líder que, mesmo envelhecido, ainda fala a língua do povo.

Creditos: Professor Raul Rodrigues