Ser candidato a deputado estadual sem base eleitoral: quando o voto vira mercadoria

Quando falta história, trabalho e ligação com o povo, o dinheiro vira a única “base” de quem tenta comprar o que não conquistou: o voto consciente.

Ser candidato a deputado estadual sem base eleitoral: quando o voto vira mercadoria

Ser candidato a deputado estadual sem possuir uma base eleitoral consolidada é, na prática, um desafio que poucos conseguem vencer com honestidade. A ausência de raízes políticas, vínculos comunitários, militância ou reconhecimento público leva muitos aventureiros da política a recorrer ao caminho mais fácil — e mais imoral: a compra de votos.

A base eleitoral é o alicerce de qualquer candidatura legítima. Ela nasce do trabalho prestado, da confiança construída, das causas defendidas e da presença constante junto ao povo. Quando um candidato surge do nada, sem história e sem serviço, resta-lhe apenas o poder do dinheiro para tentar fabricar o que não conseguiu conquistar: credibilidade e apoio popular.

Esse tipo de candidato trata a eleição como um investimento financeiro. Calcula quanto precisa gastar para “garantir” uma vaga, negocia apoios de cabos eleitorais e líderes de bairro, transforma necessidades em moeda de troca. O voto, que deveria ser a expressão da consciência cidadã, passa a ser reduzido a um produto de mercado — vendido ao melhor comprador, sem sentimento, sem ideal e sem futuro.

O problema vai além do ato da compra. O candidato que paga para ser votado, ao se eleger, entra no mandato já endividado com seus “investidores”. E quem investe em voto, cobra retorno — em contratos, cargos, favores e desvio de recursos públicos. Assim, o eleitor que vendeu o voto se torna cúmplice de um ciclo de corrupção que empobrece a própria comunidade.

Ser candidato sem base não é pecado. Muitos homens e mulheres começam suas trajetórias políticas do zero e conquistam o povo pelo exemplo e pelo trabalho. O erro está em tentar substituir o voto de confiança pelo voto comprado. O primeiro se renova a cada eleição; o segundo apodrece no dia seguinte à contagem das urnas.

A democracia se sustenta na consciência, não na conveniência. Quem não tem base deveria primeiro construir serviço, reputação e propósito — e não comprar silêncio e submissão. O voto vendido pode eleger um deputado, mas destrói o valor da própria cidadania.

Conclui-se então que: 

Ser candidato a deputado estadual sem base eleitoral não é crime. Mas comprar votos para compensar essa ausência é o atestado de que o projeto político nasceu podre. E o eleitor que aceita vender o voto é o coveiro da própria esperança.

Creditos: Professor Raul Rodrigues