Como a La Niña afeta o clima do Brasil
18/10/2025, 10:31:56Como a La Niña afeta o clima do Brasil
O fenômeno provoca aumento das chuvas no Norte e Nordeste e a redução delas no Sul.
Com o retorno da La Niña este ano, os meteorologistas voltam os olhares para as mudanças no regime de chuvas e nas condições atmosféricas em diferentes regiões do Brasil. O fenômeno é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, tanto na região próxima à América do Sul quanto no centro do oceano. A variação pode parecer pequena — apenas 0,5°C abaixo da média —, mas o impacto é relevante, dizem os especialistas.
Como o fenômeno afeta o Brasil?
Em entrevista ao Portal iG, o meteorologista do Inmet, Lizandro Gemiaki, explica como o fenômeno afeta o país. Segundo o especialista, os efeitos mais conhecidos são o aumento das chuvas nas regiões do Norte e Nordeste e a redução delas no Sul. No Sudeste, a tendência é de chuvas contínuas. Já o Centro-Oeste e a região Norte são as áreas menos afetadas, mas também podem registrar alterações.
“A La Niña cria ondas que se propagam em todo o mundo e que provocam o que chamamos de teleconexões atmosféricas, sistemas que fazem com que as chuvas de algumas regiões do país aumentem e em outras diminuam”, explica.
Lizandro ainda detalha que o fenômeno tem a característica de mudar a gênese da chuva. “Na região Sudeste, quando ocorre o El Niño, se tem mais calor e as chuvas ocorrem mais na forma de pancadas. Já quando temos a La Niña, os sistemas meteorológicos ficam mais bem desenvolvidos, atuando por vários dias, levando a temperaturas mais amenas e chuvas mais contínuas, mas no total da precipitação é quase a mesma coisa.”
Ele ressalta que o fenômeno La Niña não significa a ausência de chuvas intensas, mas sim uma alteração no padrão de distribuição. “Pode ter chuvas mais intensas, mas o predominante ao longo da atuação do La Niña é de zonas de convergência do Atlântico Sul mais constantes e de mais nebulosidade, o que diminui um pouco as temperaturas.”
Impactos pelo país
Lizandro reforça que a La Niña estabelece um padrão climático característico no Brasil: “Há um sistema bem definido entre o Norte e o Nordeste, onde aumenta a nebulosidade, e o Sul, onde a chuva diminui. No restante do país, o que muda é o tipo de formação da chuva”, afirma.
No entanto, ele destaca que essa influência não é determinante para eventos extremos específicos. “Existem sim, algumas anomalias conhecidas que a La Niña causa, mas cada ano é diferente e tem outras variáveis. Há outros tipos de oscilações globais, como a oscilação antártica, a oscilação ártica, a oscilação decadal do Pacífico, que atuam em conjunto e modificam o tempo de forma coletiva. Sendo assim, é bem difícil separar causa e efeito.”
La Niña em 2025
Com os recentes recordes de temperatura dos oceanos e as mudanças climáticas em curso, a previsão é de que o comportamento da La Niña em 2025 seja menos previsível. “Cada evento tem suas particularidades. Outras oscilações atmosféricas podem amplificar ou reduzir seus efeitos. A probabilidade de repetir os padrões de La Niñas anteriores é alta, mas nem sempre as previsões se confirmam.” Ele acrescenta: “A expectativa é de um La Niña fraco, então não se esperam grandes efeitos. Deve haver uma pequena diferença em relação à média da temperatura, mas nada muito grave ou extremo. Será uma pequena anomalia, com sistemas de larga escala predominantes na estação chuvosa, embora pancadas de fim de tarde ainda possam ocorrer. No Sul, a previsão é de menos chuva.”
Monitoramento constante
Diante do cenário incerto do fenômeno, Lizandro destaca a importância do monitoramento diário. “Estamos em um período de transição entre a seca e a estação chuvosa, e esse período favorece a formação de temporais com granizo, ventos fortes e descargas elétricas, principalmente no Sudeste. É importante acompanhar as previsões do dia a dia e tentar minimizar os possíveis danos ocasionados por esses eventos.”