Represas brasileiras submergiram cidades e comunidades inteiras
16/10/2025, 01:30:32Um panorama das represas brasileiras
O Brasil tem uma história marcada por transformações hidráulicas profundas, grandes represas erguidas para gerar energia ou regular rios que, no processo, deixaram sob as águas cidades inteiras, vilarejos, comunidades tradicionais e territórios rurais. Algumas dessas inundações foram planejadas, outras foram consequências inevitáveis da expansão hidrelétrica. Entre impactos socioambientais, deslocamento forçado, desvalorização cultural e lacunas na indenização, emerge um debate sobre memória, justiça e responsabilização. A seguir, um panorama de dez dessas represas, com breves relatos históricos:
- 1. Sobradinho (BA)
Inaugurada em meados dos anos 1970, a barragem de Sobradinho alagou a sede antiga de municípios como Remanso Velho, Sento Sé, Pilão Arcado e Casa Nova, além de povoados rurais. A construção do lago provocou deslocamentos massivos, perda de terras produtivas e patrimônio material, cultural e imaterial. À medida que o nível do lago baixa, antigas ruínas voltam à tona e rememoram vidas apagadas pela cheia. - 2. Castanhão (CE)
No Ceará, o Açude Castanhão provocou o alagamento da antiga Jaguaribara. A cidade teve que ser reconstruída em local novo (Nova Jaguaribara). O velho povoado permanece submerso, reaparecendo apenas em determinadas condições de vazante, uma imagem simbólica do custo humano de políticas hídricas. - 3. Tucuruí (PA)
A grande hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, alterou completamente a geografia da região. Comunidades ribeirinhas e indígenas viram suas vidas transformadas: territórios ancestrais, modos de subsistência, ecossistemas inteiros foram inundados. O impacto ambiental e social permanece objeto de estudos e mobilizações em busca de reparação e compensação. - 4. Balbina (AM)
Com um reservatório que alagou vastas áreas de floresta amazônica, a UHE Balbina afetou comunidades indígenas como os Waimiri-Atroari, além de ribeirinhos e ecossistemas aquáticos. O desaparecimento de espécies e de modos de vida acompanhou a crescente crítica acadêmica às hidrelétricas de grande porte na Amazônia. - 5. Nova Ponte (MG)
Em torno de 1993-94, com a implantação do reservatório da Usina de Nova Ponte, trechos da antiga cidade e assentamentos foram alagados. Ruínas reaparecem em períodos de estiagem, reativando memórias locais dos deslocamentos e perdas materiais. - 6. Ilha Solteira / Rubinéia (SP)
A construção da Hidrelétrica de Ilha Solteira inundou áreas do rio Paraná, entre elas partes de comunidades como Rubinéia. Assim como em outros casos, a nova cidade convive com o legado da antiga, suas ruínas emergem com a queda do nível das águas. - 7. Furnas (MG)
O reservatório de Furnas, muitas vezes chamado de “Mar de Minas”, inundou vilarejos inteiros, áreas rurais e partes de municípios antigos, como a antiga Guapé. A memória de comunidades que foram deslocadas permanece viva, ainda que visível apenas nos acervos fotográficos ou quando o lago recua. - 8. São João Marcos (RJ)
Cidade histórica do interior do Rio de Janeiro, São João Marcos foi demolida ou abandonada para dar lugar a reservatórios de usinas hidrelétricas da Light. Hoje é um sítio arqueológico, lembrado como “cidade fantasma”, suas ruínas testemunham como empreendimentos de energia elétrica transformaram o território e apagaram cidades. - 9. Três Marias (MG)
Com o início das operações nos anos 1960 da Usina de Três Marias, vastas áreas da bacia do São Francisco foram inundadas. Povoados ribeirinhos foram reassentados, comunidades tiveram seus modos de vida alterados, e a paisagem, transformada para sempre. - 10. Itumbiara (GO / MG)
Inaugurada oficialmente em 1981, a Usina Hidrelétrica de Itumbiara alagou cerca de 778-800 km², banhando dezenas de municípios entre Goiás e Minas Gerais. Entre seus efeitos históricos está o deslocamento de populações locais, mudanças no uso do solo, na economia local e impactos culturais de cuja lembrança restam relatos e memórias. Hoje, a usina possui Plano de Ação de Emergência (PAE) implantado em parceria com defesas civis municipais, um dos caminhos para responsabilização institucional.