Trump condiciona ajuda financeira à vitória de Milei
15/10/2025, 10:31:10Trump e a ajuda financeira à Argentina
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu o presidente da Argentina, Javier Milei, nesta terça-feira (14), na Casa Branca, para negociar um pacote de ajuda financeira ao governo argentino. Já no início da reunião, enquanto respondia perguntas de repórteres presentes no Salão Oval, Trump condicionou o pacote à vitória de Milei nas eleições legislativas de meio de mandato, neste mês. A reunião acontece a 12 dias das eleições legislativas na Argentina, em 26 de outubro, cujo resultado é crucial para a governabilidade do líder argentino nos últimos dois anos de seu mandato.
Há uma semana, Washington concordou em conceder a Buenos Aires um socorro financeiro de US$ 20 bilhões.
Apoio e comércio
Durante a reunião com Milei, ao ser questionado sobre um possível acordo de livre comércio com a Argentina, Trump não descartou a possibilidade. Ele disse que tem intenção de apoiar o aliado argentino e que deseja ver o país andino prosperar. “Vamos discutir parte disso hoje. Queremos ajudar a Argentina, e claro, também queremos ajudar a nós mesmos, mas queremos ajudar a Argentina”, disse Trump durante a reunião. E completou que o país "não deveria ter nenhuma relação" com a China.
E polemizou, mais uma vez, condicionando o apoio financeiro à vitória de Milei nas urnas neste mês: "Se ele (Milei) perder, não seremos generosos com a Argentina", disse, a repórteres. E disse ainda: "Ele pode não ganhar, mas acho que vai ganhar. E se ele ganhar, nós ficaremos com ele. E se ele não ganhar, nós vamos embora." Durante a Assembleia-Geral da ONU, em setembro, Trump já havia declarado que estava apoiando Milei para um segundo mandato.
Apoio financeiro
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou, na semana passada, que o apoio americano à Argentina virá por meio de um acordo de swap cambial com o banco central argentino. “O Tesouro dos EUA está preparado, imediatamente, para tomar quaisquer medidas excepcionais que se mostrem necessárias para garantir a estabilidade dos mercados”, disse Bessent. Segundo a Casa Branca, o acordo faz parte de uma estratégia para estabilizar um aliado-chave na região.
Impactos e negociações
Embora os detalhes do acordo ainda não tenham sido divulgados, o pacote de ajuda pode dar a Milei um fôlego político importante em meio ao esforço para conter o agravamento da crise econômica e consolidar a base de apoio ao seu governo. Em troca, Trump deve tentar costurar acesso privilegiado às terras raras e aos minerais críticos do país sul-americano. Essa prioridade dos Estados Unidos visa ainda fazer da Argentina um exemplo para os demais países da região em detrimento da presença da China.
Os dois países também devem anunciar um acordo comercial no qual Donald Trump reduziria a tarifa de importação de produtos argentinos, especialmente o aço e o alumínio, atualmente sobretaxados em 50%. Os demais produtos têm tarifa de 10%. Outra possibilidade é de um acordo para investimentos de empresas norte-americanas na Argentina, especialmente em setores estratégicos.
Críticas e opiniões
Mas a ajuda financeira tem provocado críticas dentro dos Estados Unidos. Diversos democratas criticaram Trump por priorizar resgates internacionais e medidas de proteção a investidores, enquanto o governo americano segue paralisado — no chamado "shutdown". Agricultores americanos também manifestaram insatisfação com os movimentos do republicano em relação ao aliado, lembrando que a China redirecionou suas compras de soja dos Estados Unidos neste ano.
Banco Mundial e apoio
Separadamente, o Banco Mundial informou no mês passado a aceleração de seu plano de apoio de US$ 12 bilhões à Argentina, destinando até US$ 4 bilhões nos próximos meses por meio de financiamento do setor público e investimentos do setor privado. Em nota, o banco anunciou que o pacote apoiará o processo de reformas da Argentina e sua estratégia de crescimento de longo prazo. Ainda não se sabe sobre a velocidade de liberação dos recursos. “O pacote terá como foco motores-chave de competitividade: desbloqueio da mineração e de minerais estratégicos; impulso ao turismo como fonte de empregos e desenvolvimento local; expansão do acesso à energia; e fortalecimento das cadeias de suprimentos e do financiamento de pequenas e médias empresas”, informou o Banco Mundial.
A piora mais intensa dos mercados na Argentina ocorreu após a derrota de Milei nas eleições legislativas de Buenos Aires. Foi o primeiro grande teste eleitoral do presidente, ainda pressionado pelos efeitos da denúncia de corrupção que envolve sua irmã, Karina Milei, integrante do governo.