Gilberto Gil processa padre por deboche a Preta Gil
15/10/2025, 05:31:15A batalha jurídica em defesa da fé
A cantora Preta Gil poderia ser apenas mais uma postagem anônima nas redes sociais, mas suas palavras ecoaram em um púlpito de uma igreja em Campina Grande, na Paraíba. O padre Danilo César, durante uma cerimônia, fez declarações que geraram revolta ao questionar: "Gilberto Gil fez uma oração aos orixás. Cadê o poder desses orixás, que não ressuscitou Preta Gil?".
Suas palavras não pararam por aí. Ele acrescentou, de forma desdenhosa: "Pois é. E tem gente católica que pede a essas forças ocultas… Eu só queria que o diabo viesse e levasse". As declarações, que foram transmitidas ao vivo, rapidamente viralizaram e chegaram até a família Gil, que decidiu tomar atitude judicial.
Ação judicial por danos morais
Agora, Gilberto Gil e seus familiares estão movendo uma ação contra o sacerdote, pleiteando uma indenização de R$ 370 mil por danos morais. O caso está tramitando na Justiça do Rio de Janeiro, conforme reportagem do colunista Lauro Jardim do jornal “O Globo”. Essa questão vai além da ofensa individual; ela toca em um tema mais profundo e problemático: o racismo religioso.
A reverberação da discriminação religiosa
A homilia do padre não ofende apenas a inteligência daqueles que a ouvem, mas acentua um problema sério no país: o preconceito religioso. O sacerdote se referiu a religiões de matriz africana como "forças ocultas". Segundo uma pesquisa realizada pela ONG Ilê Omolu Oxum, 60% dos terreiros de religiões afro-brasileiras relataram ter sofrido pelo menos um ataque nos últimos anos. Essa fala inadequada e repleta de desprezo autoriza ações violentas contra essas comunidades.
O papel da legislação brasileira
A Constituição brasileira assegura em seu artigo 5º a liberdade de consciência e de crença, protegendo a manifestação de todas as religiões. A Lei nº 7.716/1989 define como crime a discriminação religiosa, englobando ataques contra religiões afro-brasileiras. Medidas para combater o preconceito estão previstas também no Estatuto da Igualdade Racial.
União da família Gil
A ação é assinada por Gil, sua esposa Flora Gil, os filhos Nara, Marília, Bela, Maria, Bem e José, além do neto Francisco Gil, recém-nascido de Preta. Juntos, eles exigem não apenas a indenização, mas também uma retratação pública do padre, que até o momento não se manifestou sobre a acusação.
A luta de Preta Gil
Essa batalha judicial é uma vitória póstuma dedicada à Preta Gil, que lutou por anos contra o câncer. Que as forças espirituais, sejam elas quais forem, tenham piedade do padre, uma vez que a Justiça humana parece imune a tais ofensas.
Certamente, a luta de Gil e sua família ecoará como uma resistência contra o racismo religioso, trazendo à tona discussão necessária sobre respeito e dignidade a todas as vozes que clamam por justiça.