Desastres climáticos de 2023 e seu impacto futuro

Desastres climáticos de 2023 e seu impacto futuro

Desastres climáticos de 2023 e seu impacto futuro


Três eventos climáticos extremos que abalaram o Brasil há dois anos foram analisados por cientistas. O Brasil deverá enfrentar eventos extremos mais intensos e contrastantes, com cada vez mais frequência, a exemplo da onda de ocorrências registradas em 2023. Serão chuvas mais fortes em algumas regiões e secas mais longas e severas em outras.

Essa é a conclusão de um estudo de cientistas brasileiros, com a participação de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que elucidou quais foram os fenômenos atmosféricos que contribuíram para ocasionar, pelo menos, três desastres climáticos avassaladores registrados naquele ano.


Chuvas extremas em 2023

Uma das autoras do artigo é Luana Pampuch, professora do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Unesp em São José dos Campos (SP). Há dois anos, o Brasil registrou a maior chuva na sua história, que atingiu o litoral norte paulista; uma seca intensa que reduziu os rios amazônicos aos menores índices de que se tem notícia e uma sequência de temporais que provocou enchentes e desabamentos no estado do Rio Grande do Sul. De acordo com os pesquisadores, 2023 foi o ano que despertou os brasileiros para a dura realidade das mudanças climáticas.


Aquecimento global

O aumento da temperatura média da Terra é um dos fatores apontados pelo estudo como causador dessas ocorrências extremas, que tendem a se repetir, com mais intensidade. Quando pesquisadores discutem se a Terra vai ultrapassar 1,5 °C ou 2 °C de temperatura acima dos níveis pré-industriais, o ponto de referência é o meio século entre 1850 e 1900 — quando já havia fábricas e outros emissores, mas não em quantidade suficiente para gerar um impacto perceptível no clima.

“Um aumento de “só” 1,5 °C na temperatura média da Terra em relação a essa época (e vale lembrar que o ano de 2024 já ultrapassou pontualmente essa marca, com 1,55 °C) já é suficiente para causar alterações significativas no clima mundial. Mas, no ritmo atual das emissões e das políticas públicas para mitigá-las, o mais provável é que o planeta alcance ou até ultrapasse 2 °C até 2100”, diz o artigo. Nesse cenário, os pesquisadores afirmam que fenômenos como os registrados em 2023 se tornarão mais frequentes, mais intensos ou ambas as coisas em um futuro próximo. Chuvas fortes se tornarão 1,7 vezes mais frequentes e 14% mais intensas, enquanto estiagens passarão a ser 2,4 vezes mais comuns.

“Esses fenômenos climáticos extremos impactam diretamente a agricultura, os recursos hídricos, a biodiversidade e aumentam a vulnerabilidade social das populações”, resume a pesquisadora Luana Pampuch.


Tragédia no litoral paulista

Em fevereiro de 2023, o município de Bertioga, no litoral norte de São Paulo, registrou o recorde nacional de 682,8 mm de precipitação em um intervalo de 24 horas, deixando 65 vítimas fatais e 338 desabrigados. De acordo com os pesquisadores, naquela ocasião, uma massa de ar frio oriunda do Oceano Atlântico encontrou o ar quente sobre a costa. O estudo explica que massas com temperaturas e umidades diferentes se comportam um pouco como água e óleo, sem se misturar.