La Niña deve impactar clima no Brasil até 2026
10/10/2025, 05:31:07Retorno do fenômeno La Niña
O retorno do fenômeno La Niña foi oficializado nesta quinta-feira (9), pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). De acordo com o informe publicado pela NOAA, as condições típicas do fenômeno La Niña estão presentes no Pacífico Tropical e devem persistir de dezembro de 2025 a fevereiro de 2026. Informações da MetSul Meteorologia, com base nos dados dos modelos de clima analisados, apontam que, ao contrário do evento de 2020 a 2023, que foi atipicamente longo, este deve ser muito curto e fraco, perdurando três a cinco meses.
Hoje, conforme os dados da NOAA, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste está em -0,5ºC. O valor está na faixa de La Niña fraco (-0,5ºC a -0,9ºC) e no limite da neutralidade. A anomalia na semana anterior foi a mesma. Na avaliação da MetSul, o anúncio da NOAA surpreende. Isso porque somente três semanas até agora tiveram anomalias de temperatura do mar em nível de La Niña. Além disso, não foram consecutivos e as anomalias foram de -0,5°C, que é o limite com neutralidade. Uma parcela da comunidade científica discorda que as condições estejam realmente configuradas ou que irão se manter pelo período necessário para caracterizar o fenômeno.
Impactos de La Niña no mundo
A La Niña é monitorada de perto porque altera significativamente o clima e pode afetar os mercados agrícola e de energia em todo o mundo. O fenômeno aumenta as chances de condições secas no sul da Califórnia e em partes da América do Sul, potencialmente espalhando a seca pelo sul do Brasil e pela Argentina, o que compromete a produtividade das culturas agrícolas. Também pode sinalizar clima mais frio no Japão, no noroeste do Canadá e nas Grandes Planícies e no Alto Meio-Oeste dos EUA. As temperaturas mais baixas podem afetar a demanda por aquecimento e, por sua vez, os mercados de gás natural. Nos últimos anos, a La Niña tem ocorrido quase duas vezes mais que seu equivalente mais quente, o El Niño.
Características do fenômeno
O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo. A queda da temperatura das águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo.
A última vez em que a fase fria esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno, que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai. No Brasil, de acordo com a Metsul, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.
Variações Regionais no Brasil
Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul. Em escala global, quando o fenômeno está presente, há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. Entretanto, de acordo com a Metsul, o aquecimento do planeta foi tamanho recentemente que a temperatura média em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.
Comparação entre El Niño e La Niña
El Niño e La Niña são fenômenos opostos que ocorrem em intervalos de aproximadamente 3 a 5 anos, mas o período pode variar de 2 a 7 anos. Enquanto o El Niño corresponde ao aumento da temperatura das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial, o La Niña corresponde à diminuição da temperatura das águas do oceano Pacífico, também na sua porção equatorial. No Brasil, os impactos são sentidos principalmente nos aspectos de temperatura e precipitação.
- La Niña gera grandes volumes de chuva na região Norte e na região Nordeste do país, com maior crescimento da umidade local e ocorrência de frentes frias, inclusive no interior nordestino brasileiro.
- Na região Sul do Brasil, é registrado durante a ocorrência do La Niña um período de muita seca, com baixa significativa dos níveis pluviométricos locais, além de um expressivo aumento das médias termais.
- Já na região Centro-Oeste e na região Sudeste, o La Niña atua de forma despadronizada, mas, no geral, são verificadas diversas anomalias em termos de precipitação e temperatura.
O El Niño provoca secas severas no Norte e no Nordeste do país, impactando substancialmente os níveis de chuva que atingem essas regiões brasileiras. Ao contrário, a região Sul registra grandes volumes de chuva durante a atuação do El Niño, além do aumento significativo da temperatura. Já no Centro-Oeste e no Sudeste, não há um padrão específico dos impactos climáticos do El Niño, mas há destaque para certo aumento das temperaturas e das precipitações registradas em algumas localidades dessas regiões do Brasil.