Investimentos e Desafios na Dutra e Rio-Santos

Investimentos e Desafios na Dutra e Rio-Santos

Dutra e Rio-Santos: investimentos e desafios no transporte

Motiva-CCR promete R$ 26 bilhões até 2052 para modernizar as duas principais rodovias do País, mas alto índice de acidentes expõe fragilidades.

A BR-116, popularmente chamada de Presidente Dutra no trecho entre São Paulo e Rio de Janeiro, e a BR-101, a Rio-Santos, estão no centro da logística, do turismo e do transporte no Brasil há décadas. Gerenciadas pela Motiva-CCR desde março de 2022, por um período de 30 anos, as duas vias somam 626 quilômetros administrados, entre São Paulo, Seropédica (RJ) e Ubatuba (SP), movimentando diariamente 850 mil veículos. A grandiosidade do fluxo explica o impacto: quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país passa, direta ou indiretamente, por essas duas rodovias.

Da inauguração à era digital

Inaugurada em 1951, a Dutra foi a primeira rodovia brasileira a ligar duas capitais estaduais - São Paulo e Rio de Janeiro - de forma pavimentada e contínua. Tornou-se símbolo da modernização rodoviária do pós-guerra e da expansão industrial do Sudeste. A Rio-Santos, por sua vez, começou a ser implantada nos anos 1970, durante o regime militar, como elo turístico e estratégico para os litorais paulista e fluminense e os polos de petróleo e gás. Hoje, as duas convivem com novos desafios: tráfego crescente, envelhecimento da estrutura e a necessidade de incorporar tecnologias digitais. O modelo de concessão prevê investimentos de R$ 26 bilhões até 2052, com obras que vão de marginais e viadutos à implantação do sistema free flow, pedágio eletrônico sem cancela, até 2025.

Obras em andamento

O pacote de obras está espalhado por diferentes frentes:

  • Serra das Araras (RJ): considerada uma das obras rodoviárias mais complexas da América Latina. Com R$ 1,5 bilhão de investimento, prevê oito faixas, 24 novos viadutos e rampas de escape. A conclusão deve ocorrer entre 2028 e 2029.
  • Região Metropolitana de São Paulo: R$ 1,4 bilhão em mais de 20 frentes de obras, incluindo marginais em Arujá e Bonsucesso, além de novos viadutos que integram a Dutra à Fernão Dias, à Jacu Pêssego e ao Aeroporto de Guarulhos. Previsão de entrega em 2025.
  • São José dos Campos (SP): investimento de R$ 650 milhões em marginais e ampliação da expressa, beneficiando 2 milhões de moradores do Vale do Paraíba.
  • Duplicação e faixas adicionais na BR-101: serão 80 km duplicados e 33 km de faixas adicionais, além da instalação de 270 km de fibra óptica e 21 novas bases de atendimento.

Além da engenharia pesada, há aposta em tecnologia: iluminação inteligente com ajuste automático, monitoramento integral por câmeras, sistemas de detecção automática de incidentes e aplicativos de apoio a motoristas.

Tragédias que persistem

Mesmo com a modernização, os índices de acidentes expõem a vulnerabilidade. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que em 2024 a BR-101 registrou 12.778 sinistros, enquanto a BR-116 somou 11.478. Os dados não são apenas dos trechos da Dutra e da Rio-Santos, mas de toda a extensão das duas vias. Juntas, elas contabilizaram 1.553 mortes. Trechos em Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e São Paulo estão entre os mais perigosos, com destaque para curvas fechadas, pistas simples e regiões de serra. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a Dutra foi classificada como “Boa” em infraestrutura, mas a geometria da pista e o volume de tráfego ainda representam riscos significativos.

Peso econômico

Mais de 60% das cargas brasileiras dependem das rodovias. A Dutra conecta polos industriais e financeiros que respondem por quase 30% da população e metade do PIB nacional. A Rio-Santos cumpre papel duplo: corredor turístico e via de escoamento de petróleo e gás da Bacia de Campos. Estudos da Motiva-CCR indicam que cada Real aplicado nas obras terá efeito multiplicador na economia regional, com geração de mais de 4 mil empregos diretos e indiretos apenas nas obras metropolitanas de São Paulo.

Serviços ao usuário

São 21 bases operacionais com atendimento médico e mecânico, pontos de parada com sanitários, fraldários e áreas de descanso para caminhoneiros. A CCR também promete ampliar a cobertura de câmeras e oferecer informações em tempo real sobre tráfego, acidentes e rotas alternativas. O modelo de pedágio sem cancela, previsto até 2025, deve reduzir filas e emissões, mas gera debates sobre clareza na cobrança e impacto no bolso do usuário.

O futuro das estradas

As entregas da CCR se estendem até 2052, mas os marcos mais próximos já têm data. A Região Metropolitana de São Paulo deve ter novas marginais até 2025, enquanto a Serra das Araras deve ser finalizada entre 2028 e 2029. O objetivo é tornar a Dutra a rodovia mais moderna do País, unindo eficiência logística a segurança. No entanto, especialistas alertam que tecnologia e engenharia não bastam. A redução de acidentes depende também de fiscalização eficaz e de mudanças culturais no comportamento ao volante.