Viver em sociedade é um ato de renúncias
03/10/2025, 06:30:17Convivência coletiva exige abrir mão de desejos individuais em nome da ordem, da justiça e do bem comum
Viver em sociedade é uma condição inerente ao ser humano. Desde os primórdios, aprendemos que a convivência coletiva nos fortalece, amplia nossas possibilidades e nos protege das vulnerabilidades. No entanto, esse convívio não se dá sem custos: exige concessões, ajustes e, sobretudo, renúncias.
A vida em comunidade pressupõe a limitação de vontades individuais em prol do bem comum. É a renúncia ao egoísmo para abrir espaço ao respeito. É a escolha de seguir regras que, embora possam restringir determinados desejos, garantem segurança, justiça e equilíbrio para todos. Sem essa disposição de abrir mão de certas liberdades absolutas, o caos seria inevitável.
Quando alguém decide não ultrapassar um sinal vermelho, não o faz apenas para evitar uma multa, mas principalmente porque compreende que a regra existe para preservar vidas. Do mesmo modo, ao respeitar filas, pagar impostos ou ceder o lugar a um idoso, o indivíduo renuncia ao imediatismo de sua vontade em favor da ordem e da solidariedade social.
Essas pequenas e grandes renúncias diárias constroem a civilização. É nelas que se assentam a democracia, os direitos humanos e a convivência pacífica. Claro que há um equilíbrio delicado: renúncias demais podem gerar opressão, e renúncias de menos podem gerar anarquia. O desafio está em encontrar o ponto em que a liberdade individual se harmoniza com a responsabilidade coletiva.
Portanto, viver em sociedade é, sim, um ato contínuo de renúncias — mas renúncias que não significam perda, e sim ganho. Ganho de pertencimento, de segurança, de respeito mútuo. Em última instância, ao abrir mão de um pouco de si, cada um de nós garante a possibilidade de viver melhor junto com todos.