Metanol é um perigo no adulteração de bebidas e combustíveis
30/09/2025, 21:31:12Entendendo o metanol e suas implicações
O metanol acabou se tornando uma substantiva "coringa" dos criminosos que atuam na adulteração de combustíveis e também de bebidas alcoólicas. O Portal iG consultou especialistas para entender os motivos. Entre eles, estão o custo de produção da substância, que é mais baixo que o do etanol; e a acessibilidade, já que é produzido em grande escala e utilizado para fins industriais.
Semelhança com o etanol
O metanol (CH₃OH) e o etanol (C₂H₆O), segundo químicos ouvidos nesta terça-feira (30) pelo iG, são parecidos estruturalmente. A utilização de metanol em bebidas adulteradas voltou a ter destaque no cenário nacional em razão dos casos de mortes e internações registradas a partir do fim de semana, na Grande São Paulo.
Criação de um gabinete de crise
As ocorrências motivaram a criação de um gabinete de crise e evidenciaram, novamente, os riscos gravíssimos do consumo de metanol. As investigações seguem.
Segundo a química Beatriz Freitas, do Projeto Lagoa Viva, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o metanol e etanol são dois compostos orgânicos da mesma categoria química. São álcoois, o que lhes confere propriedades parecidas, como serem líquidos incolores, voláteis e solúveis em água.
"O etanol é o álcool presente nas bebidas alcoólicas e também é utilizado como combustível. Em contrapartida, o metanol é um álcool mais simples, que se mistura facilmente à gasolina e ao etanol. Ele pode manter o funcionamento do motor, o que costuma disfarçar a adulteração a curto prazo. Já nas bebidas clandestinas, ele pode ser adicionado intencionalmente para aumentar o volume do produto falsificado, uma vez que apresenta custo de produção inferior ao do etanol", afirma.
Riscos do metanol
O grande perigo, conforme adverte a especialista, é que, embora parecidos, o organismo humano não metaboliza metanol da mesma forma que o etanol. "Quando ingerido, o metanol é convertido em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso central e o nervo óptico, podendo causar cegueira e até a morte", aponta.
Já quando misturado aos combustíveis, o metanol pode causar corrosão em motores e componentes do sistema de alimentação, diminuindo o desempenho e a durabilidade dos veículos a longo prazo, segundo ela.
"E na saúde humana, o risco não se limita à ingestão: a inalação de vapores também pode causar sintomas como tontura, náusea, fraqueza e alterações no sistema nervoso central. Por isso, a presença de metanol fora de usos controlados é extremamente perigosa", enfatiza Beatriz.
Custo menor e facilidade de mistura
O professor Wagner Fellipe, do Departamento de Química Analítica da Universidade Federal Fluminenses (UFF), ressalta também a similaridade química do metanol e do etanol. "Eles têm a mesma classificação; são álcoois. Mas sempre que nós pensamos em álcool para consumo humano, nós estamos pensando em etanol, independente do tipo de bebida que esteja sendo consumida: cerveja, vinho, cachaça, uísque, qualquer outra bebida", exemplifica.
O professor da UFF aponta algumas características das duas substâncias que facilitam a utilização de metanol como coringa em adulterações. Segundo ele, ambos são solúveis, possuem a mesma cor e são miscíveis, ou seja, se misturam completamente em todas as proporções, formando uma solução homogênea e sem a formação de fases distintas.
"Então, sempre quando se faz uma mistura de metanol em etanol, não se vê a diferença. O aspecto é o mesmo, a solução fica totalmente misturada. No caso da bebida, eles utilizam porque é mais barato que o etanol e não causa um estranhamento no gosto tão grande quanto se fosse utilizada água na mistura, por exemplo. Uma bebida com muita água causa diferença no paladar", contextualiza.
Investigação das fraudes
Em relação aos casos de adulteração de combustível, o professor explica que o metanol é mais barato que etanol e também é combustível, o que pode dificultar de quem está usando o carro identificar.
Apesar dos casos recentes de morte e internações por consumo de metanol em bebidas alcoólicas terem sido registrados na Grande São Paulo, acredita-se que as bebidas adulteradas podem estar circulando para além do estado paulista. Por isso, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a procedência da substância e a possível rede de distribuição.