Lula na ONU e a nova ordem multipolar
29/09/2025, 09:35:55Lula na ONU e a multipolaridade improvável
No plenário da Organização das Nações Unidas, duas leituras diferentes do que move o mundo são colocadas em evidência por meio de símbolos e falas que reverberam além do salão. A narrativa não é apenas sobre Trump ou Lula, mas sobre o rumo da ordem internacional diante da ascensão de várias vozes e da desconfiança em relação a uma autoridade única.
O episódio simboliza uma transição em que a força do poder pode se encontrar com a necessidade de legitimidade compartilhada. O texto descreve uma leitura de que Trump não é inconsistente ou irresponsável, mas está implementando uma estratégia de transição para a hegemonia unilateral, apostando no poder direto e de curto prazo ao destruir as instituições que não controla.
O argumento sustenta que esse caminho, chamado de hard power, corre o risco de se tornar autodestrutivo quando não vem acompanhado de legitimidade. Ao eliminar instituições que, segundo a linha de pensamento apresentada, tornavam o domínio americano mais aceitável, o poder sem freio acelera a multipolaridade que, segundo a leitura, ele próprio afirma combater.
Essa leitura, porém, não é apenas crítica a uma única liderança. Ela oferece uma moldura para entender o que Lula expõe ao subir à tribuna: um apelo a uma lógica multilateral como caminho para a pacificação do sistema. “O século XXI será cada vez mais multipolar. Para continuar sendo pacífico, só pode se inscrever em uma lógica multilateral”, aponta um dos marcos do discurso do líder brasileiro, que se apresenta como porta-voz do Sul Global e de uma frente de países que reconhecem a Palestina.
Conforme a narrativa avançada, a multipolaridade não é apenas uma soma de potências emergentes, mas uma reorganização de governança que depende de padrões normativos compartilhados. Lula sustenta que o mundo não tem mais um chefe único, e que China, Índia e Brasil cresceram a ponto de pretendem comandar a partitura global.
Quando ele afirma que “o mundo já não tem um único chefe, mas se todos tocam sua própria canção sem se coordenar, o resultado é puro ruído”, está articulando uma crítica à incapacitação de coordenação que emerge da fragmentação. No cerne, porém, está a convicção de que o multilateralismo continua necessário, mesmo que dependa de critérios normativos universais.
A percepção é de que, diante de crises como Gaza ou o clima, outras capitais não ficarão passivas para Washington decidir em solidão. A partir dessa leitura, Lula demonstra que sua legitimidade não vem da força, mas da representatividade de mais de cento e quarenta países que reconheceram a Palestina.
O artigo aponta uma imagem simbólica de um Macron atolado na rua, resultado de uma crise de segurança de Trump — uma metáfora da paralisia do liberalismo europeu diante da nova ordem. A França, segundo a narrativa, reconheceu o Estado palestino, criticou Israel de forma contida e evitou sanções reais, discursando sobre um “caminho para a paz” enquanto Gaza permanece sob as bombas.
A crise global, segundo a análise, pode ser resumida em três impossibilidades que historiadores e diplomatas já observam: o poder puro se devora a si mesmo; o multilateralismo sem hegemonia normativa é inviável; o universalismo sem poder é apenas discurso.
A conclusão implícita é que, para seguir adiante, é preciso compreender o mundo tal como ele é hoje. Entre as constatações está a ideia de que o impossível de cada uma das leituras se sustenta na necessidade de uma moldura que permita coordenação entre diversas regiões, sem abrir mão de princípios básicos.
A narrativa indica que a transição de poder pode exigir um novo tipo de hegemonia normativa, capaz de articular as vozes de diferentes capitais sem converter-se em nova forma de dominação. Ao mesmo tempo, o texto sustenta que o silêncio da Europa diante de determinadas decisões pode expor uma falha de fundamentação ética que a crítica atribui ao universalismo sem músculo político.
Encerra-se que o desafio é interpretar de maneira realista o que já ocorreu e o que ainda pode acontecer. A narrativa propõe que a leitura das mudanças não deve se resumir a uma batalha entre valores abstratos, mas a uma busca por ordenamento que garanta a segurança de várias comunidades nacionais e regionais.