Ex-integrante da Al-Qaeda defende democracia na ONU
26/09/2025, 09:04:31A surpreendente ascensão de Ahmed al-Sharaa
Vinte e quatro anos após os atentados de setembro, um ex-integrante da Al-Qaeda, Ahmed al-Sharaa, discursou como chefe de Estado no plenário da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Ele foi apresentado como a representação de um país diante da comunidade internacional, embora muitos questionassem a legitimidade de sua posição. A cena provocou celebração irônica entre líderes da guerra ao terror desde a era de George W. Bush.
A trajetória de Sharaa, de insurgente a chefe de Estado, é vista como uma das transformações mais dramáticas da história recente do Oriente Médio. David Petraeus, ex-comandante das forças americanas no Iraque e ex-diretor da CIA, ressaltou que foi ele quem manteve Sharaa detido por anos, durante intensos embates. Surpreendentemente, Petraeus elogiou o ex-terrorista em uma conferência, provocando reações de espanto entre os presentes.
Contexto na Síria e o papel de HTS
Analistas buscam explicar a trajetória de Sharaa em um cenário onde a Síria tenta redesenhar suas vias políticas, em meio a uma coalizão internacional complexa. Sharaa tem sido ligado ao Hay'et Tahrir al-Sham (HTS), grupo que até pouco tempo era considerado terrorista pelos Estados Unidos. Esta organização exercia controle sobre Idlib, a única província onde facções anti-Assad mantinham alguma capacidade de movimentação, enquanto os curdos mantinham uma postura neutra em relação ao regime de Bashar al-Assad.
Recentemente, Sharaa teria conduzido seus aliados em uma série de avanços, que o levaram a consolidar poder na capital, enquanto muitos viam essa mudança como um possível fim do domínio da família Assad, que perdura há décadas.
Do passado violento às promessas futuras
Conhecedores da história da Síria observam que a trajetória de Sharaa é marcada pela violência. Ele integrou a Al-Qaeda, liderando o braço sírio da rede jihadista, posteriormente conhecido como HTS. Sob seu comando, milhares perderam a vida, incluindo muitos por praticarem diferentes religiões. Sharaa sempre defendeu correntes radicais do islamismo e expressava orgulho por sua condição de jihadista.
Na ONU, seu discurso, no entanto, focou em temas distintos. Ele destacou a necessidade de derrubar o regime de Assad e a importância da reconstrução do país, condenando bombardeios israelenses e classificando a ocupação de áreas disputadas como ilegal. Embora não tenha sugerido a possibilidade de um acordo de paz com Israel, não a descartou completamente, e ressaltou a necessidade da Síria evitar outra guerra, abordando os desafios enfrentados pelos palestinos em Gaza.
Consequências das disputas sectárias
O panorama, contudo, não é simples e está repleto de desafios, principalmente em relação às disputas sectárias que a ascensão de Sharaa provocou. Desde que ele chegou ao poder, relatos de massacres de alauitas na costa mediterrânea aumentaram, refletindo a conexão entre religião e poder. Drusos também sofreram ataques, e muitos cristãos se sentiram ameaçados pela violência perpetrada por jihadistas.
Diretrizes internacionais e o futuro da Síria
A comunidade internacional, segundo especialistas, precisa pressionar Sharaa a respeitar a diversidade religiosa no país e a liderar uma transição para a democracia. Contudo, o receio de se estar diante de um novo ditador que utiliza estratégias jihadistas como apoio para sua autoridade não pode ser subestimado.
Analistas destacam que a informalidade dos líderes mundiais, especialmente do presidente dos Estados Unidos, e a habilidade de negociação de lideranças regionais, poderão influenciar o equilíbrio de poder na região, abrindo espaço para novas dinâmicas de cooperação ou conflito. As palavras de líderes como Lula, durante a Assembleia Geral, também devem ser consideradas ao se buscar soluções diplomáticas.
Em resumo, a comunidade internacional enfrenta o desafio de equilibrar a proteção da diversidade religiosa, promover uma transição democrática e evitar que a experiência de Sharaa se torne um modelo de governança a ser seguido. O desenrolar dos acontecimentos irá revelar os caminhos escolhidos e suas repercussões para a paz na região.