As diferentes anistias entre 1979 e 2025

De instrumento de reconciliação em 1979 a manobra de blindagem em 2025: duas anistias que revelam sentidos opostos na história política brasileira.

As diferentes anistias entre 1979 e 2025

A história política brasileira é marcada por dois momentos de anistia que, apesar de compartilharem o mesmo nome, carregam significados completamente distintos: a Anistia de 1979, no final da ditadura militar, e a tentativa de anistia de 2025, gestada no ventre da atual política de blindagem e autoproteção de elites.

A anistia de 1979: o retorno da esperança

No final da década de 1970, o Brasil vivia sob regime autoritário, sufocado pela censura, repressão e pela perseguição a opositores. A Anistia de 1979 foi fruto de intensa mobilização popular, liderada por movimentos sociais, familiares de presos e desaparecidos, intelectuais e artistas.

Seu objetivo era claro: restaurar direitos políticos e civis de quem foi perseguido, exilado, cassado ou preso por discordar do regime. Foi uma anistia construída de baixo para cima, marcada pelo clamor de um povo que desejava respirar democracia novamente. Apesar das críticas – sobretudo por também incluir agentes do Estado acusados de violações de direitos humanos –, a anistia foi símbolo de abertura e reconciliação, preparando o terreno para a redemocratização.

A anistia de 2025: a blindagem dos poderosos

Mais de quatro décadas depois, surge uma anistia completamente diferente. A de 2025 não nasce da pressão popular contra a repressão, mas da pressão de políticos contra a justiça. Se em 1979 a palavra “anistia” carregava o peso da liberdade e da luta, hoje ela se vê sequestrada para atender interesses de corporações políticas envolvidas em esquemas de corrupção, caixa dois e crimes contra a ordem democrática.

Não há povo clamando nas ruas por essa medida. Pelo contrário: há indignação diante de mais um mecanismo para garantir impunidade aos que deveriam dar exemplo. A anistia de 2025 não mira os perseguidos, mas os perseguidores do erário. Não perdoa ideias, perdoa delitos. Não devolve direitos a quem foi injustiçado, mas a quem os utilizou para cometer abusos.

Dois símbolos opostos

Assim, temos duas anistias que, embora compartilhem o mesmo nome jurídico, simbolizam polos opostos:

1979 foi a anistia da reconciliação, da esperança, da reabertura democrática.

2025 se desenha como a anistia da autoproteção, da blindagem, do retrocesso ético.

Enquanto a primeira abriu portas para o futuro, a segunda ameaça fechá-las. A história cobra dos legisladores e da sociedade a consciência de que “anistiar” pode ser tanto um gesto de grandeza quanto de covardia política.

A diferença essencial é que em 1979, a anistia foi para o povo; em 2025, a tentativa é contra o povo.

Creditos: Professor Raul Rodrigues