A fabricação midiática de Gaspar

A indução da “imprensa” positivando Gaspar para o senado. Toda indução fala sempre dos votos do entorno de Maceió. E os outros quase cem municípios?

A fabricação midiática de Gaspar

O jogo político em Alagoas, como em qualquer parte do Brasil, nunca se limita apenas ao embate de ideias, projetos e promessas. Existe um fator invisível, mas de enorme peso: a forma como a chamada “imprensa” molda narrativas, amplifica vozes e suaviza contradições. O caso de Gaspar — hoje posto em evidência como potencial nome ao Senado — é exemplo cristalino dessa engrenagem.

Não é de agora que se percebe o esforço de setores midiáticos em construir um personagem “positivo”, quase inquestionável, em torno de Gaspar. Manchetes, colunas e análises são cuidadosamente moduladas para transformá-lo em alternativa viável e palatável a um eleitorado que, cansado de escândalos e polarizações, procura por “novas figuras”. Mas até que ponto esse movimento é fruto da realidade política ou apenas mais uma engenharia discursiva patrocinada pelos interesses que orbitam o poder?

A estratégia é clara: criar uma sensação de inevitabilidade. Primeiro, apresentam Gaspar como figura técnica, capaz e “fora das velhas práticas”. Depois, reforçam a ideia de que ele seria o único capaz de unir campos divergentes. Por fim, silenciam ou relativizam críticas, construindo uma blindagem midiática que dá ares de consenso.

Esse processo de “positivação” midiática não é inocente. Funciona como uma indução psicológica: repete-se tantas vezes a narrativa de que Gaspar é o “nome certo”, que parte da sociedade começa a acreditar sem questionar. Trata-se da velha máxima propagandística: se uma mentira dita mil vezes vira verdade, o mesmo pode se dizer de uma virtude inventada.

O perigo está em mascarar a essência do jogo político. O Senado, como espaço de articulação e poder, não pode ser reduzido a um laboratório de marketing onde personagens são fabricados e embalados para consumo popular. É preciso olhar além da vitrine midiática e perguntar: qual é a história real de Gaspar? Que compromissos carrega? Que alianças sustenta? Que interesses representa?

O eleitor alagoano não pode se deixar aprisionar por manchetes cuidadosamente polidas. A indução da imprensa é forte, mas não absoluta. Cabe à sociedade furar o bloqueio da narrativa e avaliar, de fato, se Gaspar é um projeto genuíno ou apenas mais um produto vendido como novidade, mas embalado nos mesmos vícios da velha política.

Creditos: Professor Raul Rodrigues