Lula se manifesta sobre tarifas e soberania em carta a Trump

Lula se manifesta sobre tarifas e soberania em carta a Trump

Lula aborda tarifas e soberania em carta ao presidente Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou um artigo no jornal norte-americano The New York Times, onde começa afirmando estar aberto ao diálogo com o mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump. Contudo, ressalta que a democracia e a soberania brasileiras "não estão em negociação".

Segundo Lula, o ensaio tem a intenção de "estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos", em resposta aos "argumentos apresentados pelo governo Trump para impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros".

Ele critica as tarifas, classificando-as como uma medida "equivocada" e "ilógica", principalmente levando em conta que os EUA acumularam um superávit de US$ 410 bilhões na balança comercial com o Brasil nos últimos 15 anos, sendo que 75% das exportações americanas entram no Brasil isentas de tarifas. "Recorrer à ação unilateral contra estados individuais é prescrever o remédio errado. O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas", afirma.

Lula destaca que a falta de racionalidade econômica nas medidas imposta pelo governo dos EUA evidencia que a motivação é política, fazendo alusão à pressão de Washington após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.

Motivações políticas

No decorrer do texto, Lula menciona que o governo americano usa tarifas e a Lei Magnitsky, que afetou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como uma forma de garantir impunidade para Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro de 2023. Ele também traz à tona o plano "Punhal Verde e Amarelo", que, segundo investigações da Polícia Federal, visava assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) e o ministro Moraes, numa tentativa de concretização do golpe de Estado.

O presidente expressa orgulho pela decisão do STF, que condenou Bolsonaro e outros sete aliados pela trama golpista, com uma sentença de mais de 27 anos de prisão, embora ainda existam prazos para recursos.

Regulamentação das big techs

Lula critica ainda outras justificativas levantadas pelo governo Trump para sanções comerciais ao Brasil, como alegações de que a regulação das redes sociais buscaria restringir a liberdade de expressão e censurar empresas americanas. "Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, sejam nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil", defende, acrescentando que essa medida visa proteger as famílias brasileiras contra fraudes, desinformação e discurso de ódio.

Investigação sobre o PIX

Outro ponto levantado foi o sistema de pagamento instantâneo Pix, que está sendo investigado pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) devido a acusações de prejudicar empresas americanas de cartão de crédito. Lula responde que o Pix promoveu inclusão financeira de milhões de brasileiros, afirmando que o Brasil não deve ser penalizado por criar um sistema rápido, gratuito e seguro que estimula a economia.

Questão ambiental

Na mesma investigação sobre o PIX, o governo dos EUA acusou o Brasil de não cumprir com regulamentos para o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. O presidente rebateu essa acusação, ressaltando que seu governo conseguiu reduzir em 50% a taxa de desmatamento na Amazônia em apenas dois anos. Ele enfatiza que o combate ao aquecimento global requer ação conjunta de todos os países, destacando que a Amazônia está sob risco se outros não fizerem sua parte.

Diálogo e cooperação

Na conclusão do artigo, Lula recorda a relação histórica entre Brasil e EUA, pontuando que ambas as nações perdem quando essa relação é abalada. Ele expressa a disposição do Brasil em "negociar tudo que possa trazer benefícios mútuos", exceto em relação à democracia e soberania brasileira, que "não estão em discussão". Ele lembra que, em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2017, Trump afirmou que "nações soberanas fortes permitem que países diversos, com valores, culturas e sonhos diferentes, não apenas coexistam, mas trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo". Lula conclui que essa é sua visão sobre a relação entre as duas nações, promovendo respeito e cooperação para o bem de ambos os povos.