O combate aos fatos sempre vira boatos. Bolsonarismo atuante

Na engrenagem da política e da vida pública, há uma regra silenciosa que se repete: quando os fatos incomodam, nasce a tentativa de negá-los. Mas esse combate, em vez de silenciar a realidade, costuma gerar algo ainda mais corrosivo: os boatos.

O fato é duro, objetivo, difícil de ser desmontado. Ele carrega datas, provas, testemunhos, números. Contra ele, muitas vezes, não há argumento — resta a quem deseja desviar o debate criar versões alternativas, narrativas duvidosas, histórias mal contadas. É nesse terreno fértil da negação que florescem os boatos.

Boato é filho da desinformação e neto da má-fé. Surge na esquina da conveniência e se espalha pela boca de quem prefere acreditar no que lhe convém, em vez de enfrentar a realidade como ela é. O problema é que, quando os boatos se propagam, ganham o poder de confundir a opinião pública, atrasar decisões e até inverter o juízo das pessoas sobre quem é vítima e quem é algoz.

Nos dias atuais, em que a velocidade da informação é maior que a da reflexão, o combate aos fatos já não se dá em tribunais ou em jornais, mas nas redes sociais. Um meme, um recorte fora de contexto, um áudio anônimo de WhatsApp: tudo se converte em combustível para o moinho dos boatos. E quanto mais se tenta esclarecer, mais versões fantasiosas surgem, alimentadas pelo mesmo instinto de negar a verdade.

O resultado é perverso: fatos comprovados se tornam reféns de versões distorcidas, e a verdade, em vez de libertar, precisa lutar para sobreviver. Quem ganha com isso? Sempre aqueles que temem os fatos. Quem perde? A sociedade, que passa a viver num labirinto de desconfianças.

Se combater os fatos gera boatos, resta a pergunta: até quando vamos aceitar viver de versões, e não da realidade?