Ministro Fux quebra a lógica linear e vota para absolver Bolsonaro

Direito e tempero dependem de quem cozinha. Já na Física os caminhos podem ser diferentes, porém o sentido será semre o mesmo. As Leis da Física são imutáveis. São naturais. E não as dos homens.

Ministro Fux quebra a lógica linear e vota para absolver Bolsonaro

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro tem se desenhado como um roteiro previsível, com peças e atores bem definidos, quase como uma novela jurídica. No entanto, a entrada em cena do ministro Luiz Fux, ao votar pela absolvição, quebrou a lógica linear que parecia já consolidada.

A decisão surpreendeu não apenas pela posição em si, mas pelo simbolismo. Fux é conhecido por sua trajetória de rigor técnico, e ao optar pela absolvição, lança luz sobre um ponto essencial: o Direito, por mais que busque se apresentar como ciência exata, não está imune às interpretações, aos humores e, sobretudo, aos cozinheiros de ocasião.

A metáfora é inevitável: o Direito, como uma receita, tem ingredientes básicos — Constituição, leis, jurisprudência, princípios. Porém, o resultado final do prato depende de quem segura a panela e da dose de tempero escolhida. Em alguns momentos, o prato sai forte, apimentado, cheio de rigor punitivo. Em outros, é adoçado pela complacência, pela leitura flexível ou até mesmo pela conveniência política.

O voto de Fux demonstra que a linha que separa condenação de absolvição não é tão sólida quanto muitos acreditam. Não se trata apenas de fatos, provas e normas, mas também da leitura subjetiva que cada ministro faz de um contexto maior. A neutralidade total, defendida nos manuais, se dissolve quando o processo envolve figuras que marcaram a história recente do país com polarização e tensões.

Assim, a pergunta que ecoa é: o Supremo julga Bolsonaro ou também julga a si mesmo? Ao absolver, Fux sinaliza que o tribunal não é uníssono, e que a lógica linear pode ser quebrada quando o cozinheiro decide alterar o tempero da receita.

No fim, a lição que fica é clara: o Direito não é apenas técnico, é também narrativa. E quem conta a história, no caso, tem poder para transformar condenações em absolvições, responsabilidades em desculpas, e ilegalidades em meros mal-entendidos.

A sociedade, que assiste a esse banquete jurídico, precisa estar atenta: mais do que os ingredientes, importa saber quem cozinha e a quem o prato final pretende servir.

Creditos: Professor Raul Rodrigues