Tarcisio radicaliza e adota discurso bolsonarista
08/09/2025, 21:32:13Mudança de figurino no 7 de setembro
Ao subir ao carro de som na Avenida Paulista durante o 7 de setembro, Tarcísio de Freitas deixou claro que mudou o tom político. O governador de São Paulo trocou o perfil técnico e moderado que vinha assumindo por um discurso mais alinhado ao bolsonarismo, em um gesto que chama atenção pelo simbolismo e pelas consequências políticas. A presença em uma manifestação convocada por Silas Malafaia e o tom inflamado diante de dezenas de milhares de pessoas reforçam a sensação de um deslocamento estratégico rumo a um eleitorado mais conservador.
O discurso e as falas que marcaram o ato
No comício, Tarcísio defendeu a anistia e atacou membros do Judiciário com palavras duras. "Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como (Alexandre de) Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país", disse o governador diante de quase 44 mil pessoas. Frases como essa indicam uma escolha deliberada por uma retórica conflituosa, que se aproxima do repertório utilizado por Jair Bolsonaro em manifestações anteriores.
O tom de confronto remete a episódios de 2021, quando o então presidente proferiu frases semelhantes e lançou ataques diretos a ministros do STF, chegando a chamar Alexandre de Moraes de "canalha" em um contexto que, mais tarde, se tornou parte de processos políticos e judiciais. Ao reusar um figurino retórico já conhecido, Tarcísio sinaliza para eleitores e apoiadores que pode disputar espaço nesse mesmo campo político.
Reações e repercussão institucional
A escalada verbal do governador provocou respostas imediatas de figuras do Judiciário. O decano do STF, ministro Gilmar Mendes, rebateu com vigor: "O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo". Essa defesa da ordem democrática entra em choque direto com o discurso que pede anistia e crítica aberta ao tribunal.
Ao mesmo tempo, Tarcísio recebeu elogios dentro do próprio ato. O pastor Silas Malafaia chegou a chamá-lo de "leão" da anistia e reforçou a narrativa de que não é momento para discutir candidaturas, apenas para consolidação de pautas comuns. Esse duplo movimento — críticas do Judiciário e reconhecimento de líderes do campo conservador — mostra como a disputa política no Brasil contemporâneo é também batalha de símbolos e estratégias comunicacionais.
O simbolismo da bandeira americana
Outro detalhe curioso e revelador do evento foi a presença de uma grande bandeira dos Estados Unidos estendida por apoiadores. Esse gesto, visto por alguns como uma deferência a figuras como Donald Trump, mistura referências internacionais à retórica nacionalista local. Além de gerar interpretações variadas, a cena sublinha a influência de discursos externos no imaginário político de parte dos apoiadores.
O que significa pedir anistia agora?
A defesa da anistia para atos ligados a tentativas de desestabilização democrática não é apenas um elemento retórico: trata-se de uma proposta com implicações legais e políticas profundas. A anistia implicaria, na prática, tolerância com condutas que o Judiciário e muitos setores da sociedade tratam como ameaças à ordem constitucional. Para opositores, essa proposta equivale a impunidade; para parte do eleitorado simpatizante, representa reparação política.
- Risco institucional: passar uma anistia implicaria um enfraquecimento das respostas judiciais a crimes contra a democracia.
- Polarização: a pauta tende a aprofundar divisões entre campos políticos e a mobilizar bases eleitorais.
- Repercussão eleitoral: ao adotar discurso mais radical, Tarcísio busca consolidar apoio entre eleitores do bolsonarismo, mas corre o risco de afastar moderados.
Implicações para uma eventual corrida presidencial
O novo posicionamento coloca Tarcísio em rota de colisão com a imagem de tecnocrata que cultivou anteriormente. Se a estratégia é capturar parte do eleitorado bolsonarista, o risco é claro: a perda de eleitores de centro e a recepção negativa por parte de instituições democráticas e setores empresariais que valorizam previsibilidade e estabilidade.
No campo das possibilidades, duas linhas se destacam. A primeira é que a radicalização funcionará como catapulta, permitindo que Tarcísio se torne um dos nomes de referência do bolsonarismo em 2026. A segunda é que a conversão do estilo afugente moderados e o exponha a críticas jurídicas e de imagem que comprometam sua viabilidade eleitoral.
Análise final
A performance política de Tarcísio no 7 de setembro sintetiza uma escolha clara: alinhar-se mais nitidamente ao discurso bolsonarista e à pauta da anistia. O gesto tem efeitos imediatos — elogios de aliados e críticas de magistrados — e efeitos de médio prazo, ao definir como a sociedade e as instituições irão posicionar-se perante uma candidatura potencial. Em termos de comunicação política, a mudança de figurino é eficaz para sinalizar compromisso ideológico, mas arrisca reduzir a amplitude do projeto político do governador.
Em um momento em que o País volta a debater limites entre protesto político e manutenção da ordem institucional, as palavras e posturas públicas de líderes têm impacto direto sobre o clima democrático. A discussão sobre anistia e a posição adotada por Tarcísio certamente estarão entre os pontos centrais de debate nos próximos meses, com reflexos nas estratégias de partidos, eleitores e tribunais.
Conclusão e convite ao leitor
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