Motta enfrenta pressão por anistia sob sombra de Lira
08/09/2025, 20:35:33Com liderança sob questionamento, presidente da Câmara enfrenta articulação de bastidores
Com sete meses de mandato, Hugo Motta (Republicanos-PB), o mais jovem deputado a presidir a Câmara, convive com sinais de fragilidade diante da influência do antecessor Arthur Lira (PP-AL). A articulação política conduzida por Lira tem reacendido dúvidas sobre a capacidade de Motta de comandar a Casa de forma autônoma, especialmente diante das pressões por pautas sensíveis como a anistia e a chamada PEC da blindagem.
Pressão e articulação nos bastidores
A presença de Lira nos bastidores ficou evidente em diversas negociações recentes. Apesar de atuar de maneira discreta em entrevistas e no plenário, ele tem influência para costurar acordos e mobilizar bancadas. Foi no gabinete de Lira, localizado próximo ao de Motta, que se articulou o fim do motim bolsonarista que ocupou a mesa do plenário da Câmara e que surgiram compromissos sobre pautas que seguem na ordem do dia.
O retorno do recesso parlamentar trouxe episódios de tensão: apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ocuparam mesas no plenário da Câmara e do Senado em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente. Motta só reassumiu a presidência após um acordo que teria sido costurado com a participação de Lira, mas mesmo assim enfrentou constrangimentos por resistência de opositores.
Autoridade em xeque
Ao tentar preservar sua autoridade, Motta recusou colocar em pauta de imediato os termos do acordo do qual não participou. A tentativa de suspender mandatos de parlamentares que se recusaram a liberar seus lugares não obteve apoio suficiente na Mesa Diretora, evidenciando limites de articulação. Ainda assim, aliados defendem que Motta possui apoio do plenário e conduz propostas de cunho estrutural, como a reforma administrativa.
O clima de instabilidade política volta-se, agora, para a anistia. O tema ganhou força novamente após o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) liderar ofensiva pela votação de proposta que perdoaria Jair Bolsonaro e outros acusados relacionados aos atos golpistas. Motta admitiu publicamente a possibilidade de levar a anistia a votação, possivelmente após desdobramentos no julgamento da trama golpista.
PEC da blindagem e resistência
Outra pauta sensível é a PEC da blindagem, defendida por Lira e por setores do centrão. A proposta prevê dar ao Congresso poderes para barrar investigações e processos contra parlamentares, reinstaurando mecanismos que vigoraram até 2001. A tentativa de acelerar a votação encontrou resistência de partidos e de setores que temem retrocessos e impunidade, levando Motta a adiar a votação para evitar embates maiores.
Aliados de Motta ressaltam que, apesar das tensões, ele mantém trânsito entre correntes políticas diversas e constrói parcerias. Eleito com apoio amplo — do PT ao PL —, Motta demonstrou habilidade em navegar entre grupos distintos, o que foi determinante para sua eleição em primeiro turno. Porém, a questão da anistia permanece como um teste de sua capacidade de negociação e de independência diante de influências externas.
Imagem pública e repercussão
Motta vem alternando momentos de alinhamento e distanciamento do governo. Em alguns episódios, esteve próximo ao presidente Lula, participando de reuniões e eventos no Planalto. Em outros, tomou atitudes que o colocaram em rota de colisão com setores governistas, o que resultou em críticas nas redes sociais, incluindo sátiras como "Hugo Nem se Importa".
Um episódio que marcou sua relação com o Executivo foi a liderança de uma votação que suspendeu regras de alteração das alíquotas do IOF propostas pelo governo, logo após ter discutido o tema com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Motta qualificou esse encontro como "histórica", mas a repercussão demonstrou que sua imagem pública pode oscilar conforme as decisões tomadas na Câmara.
O papel de Lira e as expectativas sobre a anistia
A visita de Arthur Lira a Bolsonaro em sua residência em Brasília acentuou a pressão pela votação da anistia. Desde então, figuras como Tarcísio e o próprio Lira intensificaram a ofensiva para aprovar o perdão. Para Motta, a decisão envolve riscos institucionais e políticos: aprovar a anistia pode garantir apoio de parcelas expressivas do Congresso, mas também provocar reação contrária da opinião pública e de aliados que defendem uma solução mais moderada.
- Risco institucional: a anistia pode ser vista como um retrocesso no combate à impunidade.
- Custo político: aceitar a pauta pode abalar alianças com setores do governo e da sociedade.
- Pressão de bancada: a mobilização de grupos pró-Bolsonaro aumenta o peso sobre a presidência da Câmara.
Desafios imediatos
O principal desafio para Motta é equilibrar a necessidade de manter autoridade interna com a estratégia de evitar rupturas que prejudiquem o funcionamento da Casa. A gestão exige, ao mesmo tempo, firmeza nas decisões e habilidade em negociar com atores poderosos como Lira e lideranças do centrão.
Seguir com pautas estruturantes — como a reforma administrativa, destacada por aliados — pode ser uma forma de reforçar sua agenda positiva. Porém, a dependência de acordos com antecessores e caciques regionais coloca em xeque a narrativa de autonomia que Motta tenta construir desde sua posse.
Conclusão
O cenário à frente é de incerteza: Motta precisa demonstrar capacidade de articulação independente sem perder o apoio que conquistou nas diferentes correntes do Congresso. A pressão pela anistia e pela PEC da blindagem são provas decisivas para a credibilidade de sua presidência. A forma como ele conduzirá esses temas nos próximos meses tende a definir seu legado e a relação de poder dentro da Câmara.
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