Centrão acelera saída do governo e resgata pautas polêmicas

Centrão acelera saída do governo e resgata pautas polêmicas

Contexto e reação do centrão

O julgamento de Jair Bolsonaro no STF virou o ponto de apoio que o centrão precisava para acelerar um possível desembarque do governo Lula e ao mesmo tempo resgatar pautas que haviam ficado em segundo plano. Partidos como União Brasil, Progressistas (PP) e Republicanos aproveitaram a repercussão nacional para pressionar por mudanças legislativas e por posicionamentos que agradem ao eleitorado de direita.

Em meio a esse movimento, surgiram iniciativas para propor anistia a condenados pelos ataques de 8 de janeiro e para revisitar propostas polêmicas, como a PEC da Blindagem e alterações na Lei da Ficha Limpa. A articulação tem ainda um objetivo eleitoral: pavimentar a trajetória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) rumo a 2026, com o respaldo de setores do centrão.

Desembarque do governo Lula

Na última semana, União Brasil e PP anunciaram a entrega de ministérios ocupados por políticos com mandato, com prazo até o final de setembro. A medida mirou diretamente ministros como Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), que foram ameaçados de expulsão de seus partidos caso não deixassem os cargos federais. A pressão reflete uma cisão interna: filiados que preferem manter cargos e benefícios no Executivo resistem ao desembarque, enquanto lideranças buscam distância do governo.

As tensões se intensificaram depois de críticas públicas do presidente Lula a Antonio Rueda, do União Brasil, e das acusações envolvendo aliados de Ciro Nogueira, do PP. Apesar do movimento, parte dos aliados de Lula minimiza os efeitos reais da saída, apontando que muitos partidos falam em desembarcar do Executivo, mas pretendem manter ministérios, estatais e estruturas nos estados.

Anistia e estratégia eleitoral

A proposta de anistia aos condenados pelos ataques golpistas encontrou inicialmente apoio na oposição, mas passou a ganhar tração entre partidos do centrão. A ideia central do movimento é costurar um acordo que permita tirar Bolsonaro da prisão sem, necessariamente, torná-lo elegível para 2026. Há diferentes versões circulando nos bastidores: desde uma anistia ampla até textos que apenas reduzam penas, mantendo a inelegibilidade.

Hugo Motta, presidente da Câmara, chegou a resistir a pautar o projeto, mas a cobrança aumentou e o tema voltou à agenda. No Senado, Davi Alcolumbre defende um texto intermediário, que reduza penas sem anistiar organizadores e financiadores dos episódios de 8 de janeiro. A oposição, por sua vez, redigiu minutas que poderiam resultar em perdões mais amplos, incluindo crimes relacionados ao chamado inquérito das fake news.

Alterações na Lei da Ficha Limpa

O Senado aprovou recentemente, por 50 votos a 24, um projeto que flexibiliza a Lei da Ficha Limpa, limitando a inelegibilidade a, no máximo, oito anos e antecipando a contagem desse prazo para a diplomação. Na prática, isso pode reduzir o impacto de condenações sobre a participação em eleições, diminuindo o alcance das sanções em algumas situações.

Ao acelerar essa pauta, o centrão busca favorecer políticos que enfrentam processos eleitorais e judiciais, além de reduzir barreiras para candidaturas futuras. A mudança na Ficha Limpa é vista por críticos como um retrocesso na proteção contra a candidaturas de agentes com histórico de irregularidades.

PEC da Blindagem

Outra pauta emblemática que retornou à agenda é a chamada PEC da Blindagem, que pretende restaurar dispositivos constitucionais anteriores a 2001, oferecendo ao Congresso maior poder para barrar processos contra parlamentares. A proposta também prevê regras específicas sobre prisão de deputados e senadores, o que, para opositores, representaria um enfraquecimento do sistema de freios e contrapesos.

As buscas no apartamento funcional do deputado Ricardo Ayres reacenderam o debate e deram novo fôlego à PEC dentro do centrão. Apesar da tentativa de votação em plenário, a falta de acordo e a repercussão negativa adiaram a aprovação. O PL, que chegou a defender a proposta, recuou e deixou claro que não a priorizará no momento.

Pressão sobre o Banco Central

Em paralelo, o PP e outros partidos apresentaram um requerimento de urgência na Câmara para acelerar um projeto que permitiria ao Congresso demitir diretores e o presidente do Banco Central. A ofensiva ocorreu justamente na semana em que a autoridade monetária avaliaria a operação de compra do banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), operação que acabou rejeitada.

O dono do Master, Daniel Vorcaro, tem vínculos com figuras do centrão, e a tentativa de dar urgência ao projeto foi interpretada por analistas como uma movimentação política para aumentar a pressão sobre decisões econômicas sensíveis. A iniciativa teve assinaturas do MDB, União Brasil, PSB, PL e Republicanos, mas não chegou a ser votada de imediato.

Principais implicações e próximos passos

  • Risco de fragilização das instituições com propostas como a PEC da Blindagem;
  • Possível redução do alcance da Lei da Ficha Limpa, afetando elegibilidade;
  • Articulação político-eleitoral visando 2026 e apoio a candidaturas alinhadas ao centrão;
  • Pressão sobre o Banco Central em momentos sensíveis para decisões financeiras.

O movimento do centrão mostra que, diante de um cenário judicial que envolve figuras nacionais de grande repercussão, as forças políticas tendem a reordenar prioridades e buscar ganhos estratégicos. A combinação entre decisões no STF, articulações no Congresso e pressões sobre o Executivo pode redesenhar o tabuleiro político até as próximas eleições.

Conclusão

O episódio revela uma combinação de cálculo eleitoral e interesse institucional: o centrão busca proteger aliados, resgatar pautas que ampliem seu poder e ao mesmo tempo testar limites do relacionamento com o governo. O desfecho dependerá das negociações internas, dos movimentos do STF e da capacidade de reação da sociedade e de outras forças políticas.

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