Gleyson Borges: arte, racismo e lambe-lambe em Maceió
06/09/2025, 10:35:22Arte de resistência nas ruas de Maceió
Gleyson Borges é um artista visual de Maceió que transformou a rua em palco de debate e resistência. Com o projeto "A Coisa Ficou Preta", ele ressignifica expressões racistas e ocupa muros em várias cidades brasileiras, usando o lambe-lambe como linguagem principal. Formado em administração pela Universidade Federal de Alagoas, Gleyson tem levado sua arte para além das fronteiras locais, questionando representações e ampliando a presença negra nas artes visuais.
Conheça Gleyson Borges
Nascido e criado em Maceió, Gleyson já afixou suas colagens em cidades como Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Com mais de 55 mil seguidores nas redes sociais, seu trabalho cria diálogos significativos entre público e artista: há humor, provocation e uma comunidade engajada que oferece suporte tanto online quanto nas ruas.
A Coisa Ficou Preta
O projeto, que o próprio artista define como "político e provocativo", nasceu a partir da necessidade de ressignificar a expressão histórica utilizada de forma pejorativa: "Falar que a coisa ficou preta historicamente, socialmente é uma expressão racista. É uma expressão que se refere a alguma coisa que deu errado, uma coisa que que ficou ruim e eu decidi adotar isso para mim, para trazer um novo significado, né?". A partir desse movimento, Gleyson colocou a potência da negritude no centro de conversas que antes eram marginalizadas.
Processo e prática do lambe-lambe
O lambe-lambe, elemento central da sua produção, é uma técnica de colagem simples e acessível. Para Gleyson, a rua é o maior museu do mundo: "Eu acho que a rua é o lugar onde as coisas acontecem, é onde as pessoas estão, é o melhor e maior museu do mundo que está aberto 24 horas por dia". Essa escolha não é só estética, mas estratégica — a arte vai até o público, interrompe rotinas e provoca reflexão.
Ferramentas e rotina
Gleyson descreve seu processo criativo como uma caixa de ferramentas mental, onde referências visuais, músicas, conversas e observações do cotidiano formam a base para novas imagens. Ele produz, cola, registra e interage com as reações do público. O trabalho exige também cuidados práticos: em sua cidade ele conhece rotas e horários; em locais desconhecidos, a ação exige mais atenção por questões de segurança.
Obras e séries que dialogam com a sociedade
Ao longo da carreira, Gleyson criou séries que reinterpretam obras clássicas ou falam diretamente sobre a experiência negra. Entre as mais conhecidas estão a série "Pintado de preto", que reinventa personagens brancos em obras famosas, e a peça "Colação", que representa um jovem negro atirando um diploma ao alto, simbolizando a educação como ferramenta de emancipação social e política. Outra narrativa importante é a de "Dona Gil", inspirada pela frase da mãe do artista: "Cansei de ser dona de casa, quero ser dona da rua".
- Colação — visibilidade e celebração da conquista acadêmica.
- Pintado de preto — releituras críticas de grandes obras.
- Dona Gil — vozes familiares que viram público e rua.
Recepção e engajamento
O público reagiu com carinho e bom humor ao perfil pessoal do artista nas redes sociais — há até a brincadeira com os "tênis excêntricos" que ele usa. Mais do que uma base de fãs, a comunidade de Gleyson atua como rede de apoio: compartilha trabalhos, combate comentários racistas e ajuda a ampliar a visibilidade do projeto, criando um efeito que transita entre o online e o offline.
Expansão da linguagem: além do papel
Embora o lambe-lambe seja característico de sua obra, Gleyson diversificou seu repertório com madeira, stencil, literatura e bordado. Essa pluralidade reafirma o aspecto artesanal e autoral de seu trabalho, mostrando como a resistência pode assumir vários suportes e linguagens.
Arte que provoca discussão
As intervenções de Gleyson não buscam apenas estética: são proposições políticas que convidam à reflexão sobre representatividade e sobre como identificamos pessoas negras nas narrativas culturais. Ao ocupar muros com imagens que celebram a negritude, ele altera rotinas visuais e convida transeuntes a reconsiderar estereótipos.
Como o artista financia o trabalho
Gleyson costuma reinvestir na própria produção: vende alguns trabalhos e gerencia todas as etapas — da compra de materiais à execução das intervenções. Esse modelo autônomo reflete uma prática independente e consciente, que garante ao artista controle estético e financeiro sobre o percurso de cada obra.
Conclusão
Gleyson Borges transforma ruas e muros em espaços de diálogo ao colocar a arte como instrumento de questionamento e empoderamento. Seu projeto "A Coisa Ficou Preta" é um exemplo de como a linguagem do lambe-lambe pode ser reinventada para confrontar o racismo e afirmar presença. A arte de Gleyson mostra que, quando ocupamos o espaço público com imagens que representam e afirmam, mudamos narrativas e ampliamos possibilidades.
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