Disputa sobre anistia opõe Sóstenes e Alcolumbre
05/09/2025, 01:31:17Contexto da disputa
A discussão sobre a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 se transformou em um dos principais confrontos políticos no Congresso. De um lado, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL), líder do partido na Câmara, defende uma anistia ampla que alcance réus do 8 de janeiro, investigados desde 2019 e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Do outro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), articula uma proposta mais limitada, que exclui organizadores e líderes políticos de um possível perdão.
As propostas em confronto
Proposta ampla na Câmara
Sóstenes apresentou uma proposta de anistia que, na sua abrangência, incluiria quem foi alvo de inquéritos relacionados às chamadas fake news e investigados por atos que variam desde crimes eleitorais até tentativas contra a ordem democrática. A intenção declarada é reverter efeitos como a inelegibilidade do ex-presidente e livrar investigados de responsabilizações que, segundo ele, já se arrastam há anos.
Proposta restrita no Senado
Em contraponto, Alcolumbre tem defendido uma versão mais sofisticada e restrita da anistia. A ideia central do senador é preservar punições para organizadores, financiadores e líderes que tenham papel de protagonismo nos atos, ao mesmo tempo em que permite a redução de penas para manifestantes de menor participação. Essa estratégia visa amenizar riscos de um veto judicial do Supremo Tribunal Federal e reduzir o desgaste institucional.
Motivações políticas e jurídicas
A disputa não é apenas legislativa, mas também profundamente política. O texto amplo defendido por Sóstenes encontra apoio em bancadas como PL, PP, União Brasil e PSD, e o deputado diz contar com cerca de 260 parlamentares, mirando os 308 votos necessários para aprovar em plenário. A estratégia inclui pressionar para que a votação ocorra logo após o julgamento do ex-presidente no STF, previsto para setembro.
Alcolumbre, por sua vez, trabalha com a avaliação de que uma anistia ampla pode ser considerada inconstitucional e, portanto, anulada pelo STF. Para evitar esse cenário, o presidente do Senado tem mantido interlocução com ministros, dentre eles Alexandre de Moraes, buscando ajustar o texto a parâmetros que reduzam resistências jurídicas.
Atuação de atores externos
Além das articulações intra-Congresso, o debate envolve governadores e pré-candidatos que veem na anistia um movimento para alinhar apoios eleitorais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem defendido a ideia de anistia ampla. Observadores políticos interpretam essa movimentação como tentativa de consolidar um vínculo com o ex-presidente e, assim, angariar apoio para uma possível campanha presidencial em 2026.
Consequências e cenários possíveis
Se aprovada em sua versão ampla, a anistia poderia reverter penalidades que atingem figuras importantes do cenário político nacional, com impacto direto nas eleições futuras e no equilíbrio de forças entre partidos. Já uma versão restrita tende a preservar mecanismos de responsabilização e reduzir o efeito político imediato sobre lideranças com maior participação em eventos de 2023.
Principais cenários:
- Votação e aprovação da anistia ampla: mudança significativa no panorama eleitoral e jurídico, com potencial de reabilitar lideranças politicamente relevantes.
- Votação e aprovação da anistia restrita: manutenção de responsabilizações para organizadores e redução de penas para participantes de menor expressão.
- Rejeição da anistia: manutenção das investigações e processos em curso, com eventual ampliação do desgaste político entre partidos aliados.
Impacto no STF e na estabilidade institucional
A preocupação central que orienta a proposta restrita é evitar um confronto direto com o Supremo. Alcolumbre e seus interlocutores avaliam que um projeto claramente permissivo pode sofrer ações diretas de inconstitucionalidade e ser derrubado, gerando um impasse institucional. Assim, a versão que preserva punições para organizadores busca combinação entre anistia humanitária e limites jurídicos plausíveis.
O jogo dos números
Na Câmara, Sóstenes afirma ter apoio de cerca de 260 deputados, mas reconhece que ainda falta consolidar os 308 votos necessários. A pressão sobre parlamentares-chave e o calendário do STF, com julgamentos que envolvem a figura de Bolsonaro, tornam o timing da votação um elemento estratégico. No Senado, a construção de maioria para uma proposta mais moderada depende do diálogo com partidos do centro e do entendimento com ministros do Supremo.
Considerações finais
A disputa sobre a anistia mostra como temas de natureza jurídica podem ser usados como instrumentos de estratégia política. Enquanto líderes de bancada buscam ampliar apoios e transformar decisões judiciais em debates eleitorais, outros esforços se voltam a tentar preservar a institucionalidade e minimizar riscos de uma decisão judicial contrária.
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